segunda-feira, 31 de maio de 2010

SADE, 270 ANOS, AMANHÃ

Parece a mim que todo o legado de Sade foi da derivação de seu nome, a palavra sadismo. Sempre me pergunto sobre este fenômeno reducionista, visto que Sade foi importante pensador de seu tempo. Tive a oportunidade de ler uma boa parte de sua extensa obra nos originais numa época em que mergulhei nos clássicos à guisa de aprender o idioma francês. Lembro que entao comprei uma enciclopédia de clássicos frabceses, na verdade uma ediçao muito antiga, bem anterior a 1958, ano em que, vencida a censura, publicões de Sade puderam pela primeira vez vir à luz das edições. O nome do escritor nem constava ali. Sade,como dizia, foi um pensador, um filósofo incompreendido, como o é até hoje pela moral do establishment, da Igreja e até da psicanálise. Sua bibliografia não é linear, assim como seria uma exposiçao de um só artista, porém com os mais variados estilos de quadros numa mesma sala. O que nele prepondera é o conteudo veementemente libertário. Em "Os cento e vinte dias de Sodoma", também conhecido como "A Escola de Libertinagem", produziu um texto substancialmente escatológico, pesado e indigesto. Já em "Os crimes do Amor" trata com maestria do tabu incestuoso. "Justine",ou "Os Infortunios da Virtude", poderia ser tomado como uma obra religiosa que prega a máxima de que quanto mais bem se faz, mais se é punido, o que não deixa de ser uma verdade em muitos casos. Já em "A filosofia do Boudoir", erroneamente traduzida para o português com "A filosofia de Alcova", Sade expressava corajosamente em seu tempo aquilo a que hoje podemos livremente assistir pela TV. É que hoje não era como d'autrefois, eis a diferença. Foi um homem corajoso, passou a metade de seus dias na prisão, e diz-se - não há provas concretas sobre isso - que teria sido o último ocupante da Bastilha antes de sua queda que simboliza a derrocada da realeza. Aconselho a leitura de Donatien-Alphonse-François de Sade, onde se pode compreender por que o Marquês falido foi um boi de piranha à mesma época em que se consagrava Choderlos de Laclos, inatacável militar de prestígio e célebre autor de "As Ligações Perigosas", que escrevia sobre o mesmo assunto, apenas de forma polida e diciplinada. Acho que foi Jean Paulhan, estudioso de Sade, quem escreveu que o tempo farã justica ao malogrado autor.

2 comentários:

  1. O tempo presente é sempre muito ingrato com os artistas. Aliás, a humanidade é muita ingrata para não dizer estúpida.

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  2. Depois de ler esse texto ele irá entrar para a minha lista de autores para ler. Muito bom o texto.

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