terça-feira, 29 de junho de 2010

O Japão em seus pés

Pena mesmo tenho do Komano,que errando uma cobrança de pênalti entregou os doces pro Paraguai. Jogadores que passam por isso com certeza não dormem por algumas noites. Mas - como se diz nestes momentos em que nada mais pode ser dito - o que fazer ? Foi bravo o Japão, como sempre foi em sua história. Já ter chegado à Copa do Mundo foi uma grande vitória. Sayonara e Arigatô !

MEU DEUS, O QUE FOI QUE EU FIZ ???

 
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EL MATADOR

 
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COENTRÃO

Não adianta ter um bom tempero se faltam ingredientes. É o que se pode falar em torno deste grande jogador de Portugal, o Coentrão. A equipe portuguesa é boa mesmo, mas, frente à Espanha, tinha mais que cair. Herói da partida, para mim, nem foi o Villa, autor daquele gol espanhol marcado sob a égide do impedimento. Herói foi o goleiro português, defensor de todas as bolas pretensamente certeiras.That's the guy ! A Espanha jogou muito, mas muito bem. Foi o melhor de todos os jogos, data venia os advogados de plantão e os rábulas, como eu. Eu rezo para não termos de enfrentá-la.

Deus é sul-americano

 
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IRONIAS DO ESPORTE BRETÃO

Pois nem sempre quem ganha quem joga melhor. Futebol tem essas coisas da sorte, da boa e da má. Pois o Paraguai foi visivelmente inferior ao Japão - esta a minha opinião - e ainda assim levou a melhor nos pênaltis, já que um artilheiro japonês errou a bola na sua vez de chutar. Um erro fatal como aquele na final de uma antiga Copa em que um italiano cometeu o mesmo erro. Na hora dos pênaltis, as atenções ficam todas concentradas nos goleiros, como se eles fossem ser os heróis da decisão. Ledo engano que aqui mais uma vez comprovou não ser a regra. Os goleiros não defenderam. O artilheiro errou e c'est fini. Se há quem diga que Deus é brasileiro, não sei mesmo se pode ser. Mas sul-americano ele é, sem dúvida. Até aqui.

Saramago, ainda

Ateu convicto, Saramago deixou esta frase única:
"Entrarei no nada e me dissolverei em átomos "

SORRIA, VOCÊ ESTÁ VENCENDO !

 
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ALÍVIO EM PEQUENAS DOSES

E o Brasil venceu o Chile. Com Robinho e Kaká a seleção readquiriu aquele viço perdido no jogo anterior, contra nossos irmãos portugueses, que de bobos não têm nada. Mas aquele teste foi interessante porque o time brasileiro relativamente desfalcado, e pelo menos empatando com Portugal, uma seleção favorita, prometia jogar bem mais e melhor contra o Chile, seleção mais fraca. Deu 3x0. O que se nota é que reaparece também em nós aquela idéia de um Brasil imbatível no futebol, nasce em nossos rostos o mesmo sorriso estampado em Kaká, Robinho e Luis Fabiano, abraçados em comemoração. Abraçamo-nos nós também diante de tais imagens de otimismo. Agora vamos enfrentar a brilhante tropa batava. Acho que vai dar certo outra vez.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Mas quem ouviria o pastor se não fosse a TV pela qual ele mesmo se projeta ?

Movimento Boicote Rede Globo - Globo Esclarece Sua Missão

Vamos torcer para que não aconteça isso daí abaixo...

Galvão Bueno e Casa Grande - Charge BRASIL X ARGENTINA

Serão os franceses assim ?

A propósito da grosseria que o técnico da equipe francesa de futebol protagonizou diante do treinador do time adversário e vencedor, o nosso Parreiras, e diante de milhões de telespectadores,devo, a bem da verdade, dizer que os franceses não são assim. Pelo contrário, famosos antes por serem descorteses e frios, a principal fonte da economia francesa, o turismo, ensinou aquele povo a tratar bem os estrangeiros, se é que já não o faziam. E isso hoje se percebe na maior parte dos lugares. Infelizmente, o senhor Raymond Domenech, com seu gesto de arrogante superioridade - e não se sabe por quê, já que seu time perdeu - faz ressucitar a hipótese de que os franceses comportam-se como ele. Isto é, conseguiu a um tempo enterrar as esperanças francesas de vitória nesta copa e exibir uma lição equivocada, mesmo diante do técnico Parreiras que com humildade insistia em apertar-lhe a mão num gesto de fraternidade. Na França tem sido este fato o causador de muita vergonha - basta entrar nos sites da imprensa parisiense para ver o que pensam e dizem. Vale lembrar que, apesar da vitória, o time de Parreiras foi igualmente desclassificado, e que este lembrou das lições básicas da fraternidade ( La Fraternité ), símbolo maior da bandeira francesa. Quanto a Domenech, esqueceu-se desta ordem, e de outra, a igualdade dos pares ( L'Égalité ). Lembrou-se apenas de uma, a liberdade ( La Liberté ) de agir conforme seu péssimo e arrogante humor. Repito: os franceses não são Domenech, podem acreditar.

Educação, por favor

 
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quarta-feira, 23 de junho de 2010

Frase de Paulo Maluf, a propósito do "Ficha Limpa "

"Eu tenho a ficha mais limpa deste país. Construí estradas, pontes...",
e por aí foi foi o maior cara-de-pau brasileiro. E sabem no que vai dar ? Eu aposto que em nada, pelo menos por agora. Com o dinheiro que ele amealhou, sabe-se lá como, pode pagar ótimos advogados ou influir mais profundamente ainda...sabe-se lá onde.

Carta a Martha Medeiros

Cara Martha:

Tua crônica de hoje é uma bola, e me fez recordar um episódio semelhante que se passou comigo. Eu estava num vernissage meu, acho que da segunda exposição, quando se acercou de mim um cara que se apresentou: - Muito prazer, Paulo Amaral. Eu pensei que ele fosse louco, mas logo me disse que era o médico cirurgião plástico, o qual, obviamente conhecia tanto pelo nome e por algumas confusões recíprocas, conforme ele também confirmou. Nossos nomes no guia telefônico estavam escritos “Paulo B. Amaral”, o meu B de Brasil e o dele de Becker. Daí a confusão. Na época eu construía muito como empresário da engenharia e as pessoas ligavam para a casa dele perguntando detalhes sobre este ou aquele imóvel, preços, prazos, etc. Naturalmente ele informava que não era o Paulo Amaral engenheiro, mas o médico. Também ligavam para mim algumas senhoras. Uma delas, numa tarde de domingo, enquanto eu preparava uma pizza para a família, se apresentou ao telefone – não lembro que nome disse – e eu fiquei pensando naquele nome que não conhecia. Eu tinha muitos clientes. Mas segui na linha, constrangido por não lembrar o nome de uma cliente, coisa difícil de acontecer. Então ela me perguntou o que poderia comer naquela noite e eu deduzi que ela perguntava sobre a dieta permitida anteriormente a uma cirurgia que faria na manhã seguinte. E como já tinha uma intimidade com o Paulo Amaral médico, respondi a ela que poderia comer uma boa pizza calabresa com muito azeite de oliva e acompanhada de bastante cerveja. Ela me agradeceu e desligamos os telefones. O que aconteceu depois eu não tenho a menor idéia. Meu nome é tão vulgar que – e aqui vai outra parte de história que passei com a tua prima Ana Luiza Zambrano, seu marido Jaime e um grupo de amigos – uma vez fomos a Buenos Aires num grupo, e eu e minha então mulher chegaríamos depois, não lembro por quê. A Ana Luiza, para nos advertir da imprevista mudança de um hotel que tínhamos reservado ( não havia celulares naqueles tempos ), mandou ao aeroporto um emissário daqueles que esperam os viajantes, mas ele não portava uma daquelas plaquinhas habituais. Apenas dizia com uma voz a um tempo grave e estridente:- Señor Amaral, Señor Amaral...Olhei para a minha mulher e disse: - Este cara é louco. E depois nos perdemos em Buenos Aires.

Beijo e abraço.

Paulo

sexta-feira, 18 de junho de 2010

LEGADOS DA ALMA

Com poucas horas de diferença, deixam-nos órfãos José Saramago e Bernardo de Souza. Eu me atrevo a estabelecer entre os dois um paralelo indissociável. Cada um à sua maneira foi alguém que não faltará sempre que desejarmos estabelecer visíveis marcos de coerência. Já era tarde para que Bernardo de Souza, o ser humano e o político, pudesse transpor os umbrais de certa eternidade. Aquela em que vamos – se fizermos jus – fazer repousar o significado da vida que teremos sido, isto é, a existência útil que cresce de nossos bons feitos, de nossas atitudes corretas e, sobretudo, de nossa dignidade. E que depois da morte passa a ser a lembrança digna de ser comemorada como exemplo. Para Bernardo de Souza - como comparou uma amiga comum no velório deste gigante ético -, cujo espírito atento apenas vivia aprisionado a um já corpo inerte, sua vida terá sido apenas uma passagem, pois seu exemplo em todas as áreas pelas quais transitou faz jus àquela certa eternidade. Os homens – diz-se - passam, as instituições ficam. E Bernardo foi uma instituição. Precisarei aqui ater-me a um assunto próprio e único que a Bernardo de Souza valia como profissão de fé: a preservação da cultura como valor inestimável. Foi ele quem primeiramente vislumbrou entre nós o significado que a ela se deveria dar e impor nas lides da política, desenvolvendo ações concretas que resultaram na criação da lei de incentivo à cultura, com maior justiça batizada “ Lei Bernardo de Souza ”. De lá para cá, passados tantos anos, milhares de projetos do setor puderam ser viabilizados, centenas de empregos foram criados e, mais do que tudo, instalou-se entre nós um modelo de pensamento corajoso e capaz de fazer emergir realidades a partir de sonhos que nossa incapacidade de neles acreditar os abandona com a freqüência contumaz de nossa falta de discernimento e vontade de agir. Saramago, por outra razão não muito distante, fundada em sua capacidade de expressar na ficção uma filosofia comparativa sobre os valores das sociedades de sempre, sobretudo as de nossos dias, no que diz respeito à coragem de enfrentar tabus, fez também ele dos sonhos instrumentos necessários às mudanças reclamadas em seu tempo. Enfrentou ditaduras, violências de toda a sorte, pensamentos retrógrados, pacificando, assim, o que todos sabem muito bem como deveria ser feito, mas não têm a coragem de fazer. Dois grandes vultos de nossa história. Um, pelos caminhos da política, dedicou-se às coisas maiores da cultura, tão bem expostas e racionalizadas em seus textos claros, e em seu exemplo cristalino como político. O outro logrou em seus livros execrar, com invejável habilidade e sutileza no manejo da palavra, a censura, a mediocridade, a incapacidade de transformar em riquezas os resíduos oníricos, que são a parte mais rica de qualquer ser humano. Conheci a ambos pessoalmente. Com Saramago, escritor de minha predileção, apenas troquei poucas e inesquecíveis palavras num diálogo de fim de tarde. Mas aquilo teve o peso de uma existência. Com Bernardo de Souza, também conhecido como o pai do Orçamento Participativo, que hoje é modelo de exportação para países do Primeiro Mundo, tive o privilégio de conviver por uma breve temporada quando ele foi prefeito de Pelotas e eu era diretor de um museu. Ambos foram seres únicos e iluminados, ambos foram homens de cultura. Este o paralelo que eu queria demonstrar, como o fundamento de um teorema dedicado à homenagem. Mas com a maior propriedade de que possa ser capaz, diria sem hesitação que a principal característica que os uniu foi a simplicidade.


Paulo César B. do Amaral

de José Saramago

Reproduzo aqui algumas frases de Saramago, em seu último romance, "Caim". São verdadeiras pérolas da língua portuguesa, e mais: são raciocínios mistos de ironia fina e brilhante pragmatismo.

" A história dos homens é a história de seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele ".

" Não é possível que vás fazer uma coisa dessas, senhor, condenar à morte o inocente juntamente com o culpado, desse modo, aos olhos de toda a gente, ser inocente ou culpado seria a mesma coisa, ora, tu, que és o juiz do mundo inteiro, deves ser justo em tuas sentenças. A isto respondeu o senhor, Se eu encontrar na cidade de sodoma cinquenta pessoas que estejam inocentes, perdoarei a toda a cidade em atenção a elas ".

Não pensem que "deus" em minúsculas, assim como "o senhor" ou "sodoma" possam tratar-se de um erro na minha transcrição. Isso é, simplesmente, Saramago.

Este vai fazer falta

 
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EIS O HOMEM

Hoje posso dizer que fiquei órfão. Órfão de José Saramago, o maior escritor contemporâneo da língua portuguesa, aquele com cujo livro anual eu poderia contar, enquanto minha memória saboreava deliciosamente o último. A notícia de sua morte foi um golpe mortal, como aquele que tomou Abel de seu irmão Caim. Caim foi seu último livro, e está em minha prateleira de livros especiais, ao lado direito de outros tantos que li do mesmo autor. Ficará ali para sempre, aguardando a continuação de uma extensa obra.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Uma luz no fim do túnel

Tive a oportunidade hoje de participar de uma entrevista à imprensa dada pelo candidato a governador do Rio Grande do Sul, José Fogaça. Conhecendo-o desde jovem, pois fomos contemporâneos das ruas do bairro Petrópoilis, e das reuniões-dançantes dos anos sessenta, não me surpreendi pela primeira vez - vindo do Fogaça - ouvir da boca de um candidato a qualquer posto um depoimento sobre cultura. O assunto veio a propósito do enfoque que o seu governo deseja imprimir na prestação de serviços. Pois cultura nada mais é do que uma prestaçao de serviços. E serviços essenciais. Fogaça falou mais, citando por duas vezes o item cultura. Falou da importância da cultura desde sempre, e agora ainda mais no mundo contemporâneo que se utiliza das mais modernas ferramentas. Foi a primeira vez que ouvi um candidato ao governo de nosso Estado falar em cultura, em suas possibilidades, em seu planejamento e na importância de seu alcance, sobretudo em um momento em que drasticamente as ações culturais do atual governo não existem sob qualquer política específica, e a cultura, literalmente, sob a égide do Estado, e por influências de conhecidos e não mencionados interesses, levou a derradeira pá de cal, foi fadada ao esquecimento de sua importância. Ainda há tempo de construir uma política cultural para o nosso Estado. Temos que votar na pessoa certa.

Será o fim das vuvuzelas ?

Acredito que nem a derrota da África do Sul hoje vai parar com elas.
E diz-se que elas voltarão com mais força em 2014, na Copa do Mundo do Brasil.
Será que suportaremos isso ?

terça-feira, 15 de junho de 2010

Não durmam em serviço

O resultado da partida entre o Brasil e Coréia do Norte hoje é uma clara advertência de que não se deve menosprezar o adversário, em que pese não ter este maior significância no futebol. Ou melhor, não tinha. Agora tem, e de sobra. Considerando-se o Brasil, com uma história riquíssima nas lides da bola em campo, a Coréia provou ser uma excelente equipe, e eu não arriscaria qualquer erro em dizer que, nesta partida de hoje, foi melhor que o Brasil. Pelo menos fazia o que sabia: correr em campo e impedir que nós ultrapassássemos a sua fortíssima zaga de seis jogadores. Uma muralha, melhor dizendo. E aquele jogador de número 9... o que era aquilo ? Parecia estar numa corrida de cem metros de Olimpíada. Um show. Mas o gol deles veio do número oito. E que gol. Melhor que ele, só o nosso primeiro, do Maicon, na verdade um gol que pôs por terra as leis da física. Mas não durmam em serviço, porque aí vem mais, e todos nós somos filhos de Deus.

João, o Sereno

 
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Maria Fernanda

 
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segunda-feira, 14 de junho de 2010

Mundo pequeno

Numa viagem a Paris, faz alguns anos, por uma dessas oportunidades da sorte que nos acontecem, fui colocado na primeira classe. A ainda linda senhora que está comigo na foto viajou ao meu lado. A foto foi sacada pelo amigo Alfredo Aquino, já na esteira das bagagens. Trocamos poucas palavras em italiano, pois eu pensava que ela era italiana, alguma coisa me dizia. Mas o seu francês era impecável. Então descobri quem ela era, ao perguntar-lhe se era...
Adivinhem quem é. Coloquem as respostas nos COMENTÁRIOS.
Em alguns dias vou dizer quem acertou.

Adivinhem que é.

 
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Ventana Cerrada, de Paulo Amaral

 
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Cometa, de Tatiana Druck

Podes sim beijar na bochecha
somos amigos eternos
eu aceito

Mas também é certo
se chegas mais perto
dá um ralo nas coxas
e mete a mão no meu peito
com todo respeito

de Marguerite Yourcenar, em Memórias de Adriano

" Toda felicidade é uma obra prima: o menor erro a adultera, a menor hesitação a modifica, a menor deselegância a desconfigura, a menor tolice a embrutece ".

sábado, 12 de junho de 2010

JAMAICA

Homenagem a minha querida amiga e escritora Patrícia Bins


Somente o acaso me faria vagar na manhã fria pelas ruas do vilarejo. Depois do café, já fora do hotel, acendi uma das pequenas cigarrilhas que sempre levo para estes momentos curtos e inesperados para saborear o vício sem prejudicar na essência o protocolo dos solitários e discriminados fumadores de charutos. Pus-me a passear pela Pequena Jamaica - o nome do lugar -, que avistara desde o interior do hotel em me haviam colocado, nos arredores do aeroporto após a perda do vôo. Tive curiosidade de andar por ali, algo me chamava. Acho que era o sol. E fui. Tinha vivido na América, fazia muito tempo, e aqueles dias me vieram à lembrança, agora modificada, amadurecida pelas convenções do tempo em mim, adaptada ao que, passados 40 anos, via e sentia à minha volta: o ar frio e seco, as ruas asfaltadas e silenciosas, as flores murchas, cansadas de adornar os jardins formais das casas - estas de Jamaica, simples, mas com automóveis de grife estacionados em seus pátios mal cuidados. Em longos intervalos, surgia solitariamente nalguma esquina um carro em marcha lenta, deixando para trás a fumaça da descarga visivelmente acentuada pelo frio cortante. Jamaica. Era o último dia do ano. Em minha direção caminhava com alguma dificuldade uma senhora preta, muito velha, curvada sobre a própria espinha, talvez no farewell de sua existência, e assim que cruzamos, esforçando-se para levantar a cabeça, com um sorriso largo, como se fosse de renovada esperança, exibiu seus claros e ainda conservados dentes, desejando-me com a voz rouca e ainda forte: - Happy Holidays ! Respondi instantaneamente do mesmo modo, mas com a emoção da advertência que há muito me faltava nesses momentos que sinalizam mudanças, ou sugerem novas fases, em que repensar a vida no ano que inicia, aquilatar razões e valores mais ocorre por imposição de marcos temporais do que por escolha desejada. Não gosto de pensar nas coisas de tempo. Penso ser a vida simplesmente um mistério. Vesti uma luva de lã em uma das mãos, enquanto com a outra segurava a cigarrilha, já pela metade, me concentrando em conservá-la assim, imutável, por mais tempo, meu propósito inicial sendo o de fumar rapidamente e retornar, antes que o frio consumisse o prazer da caminhada, ao lobby daquele hotel desprovido de qualquer charme, de qualquer caráter próprio, retrato clássico de todos os outros que abrigam pessoas de passagem em frias viagens de trabalho: executivos, funcionários, comandantes e aeromoças, e, por vezes, prostitutas, como num hôtel de passe, nenhuma dessas gentes criando vínculos com as paredes que tão somente as acolhem na circunstância inusitada. Ocupava-me em preservar a cinza na ponta da cigarrilha, impedir que ela caísse, arrependido por não haver trazido um charuto, como faço de hábito, e por ali andar mais tempo. Algo me chamava a prosseguir no percurso a esmo pelas ruas de Jamaica. Me afundei umas dez quadras. As casas eram muito parecidas, construídas dentro de um programa habitacional ao estilo americano, provavelmente destinado a pessoas de baixa renda. Diferiam entre si apenas por um puxado a mais, ou a menos, uma sacada que se estendia para fora da fachada, ora à direita, ora à esquerda, de modo a quebrar a monotonia de um projeto sistematizado, calculado a centavos de dólar, fundido num orçamento restrito. As decorações de Natal ainda estavam lá, esquecidas sobre os jardins, ressequidas pela nevasca de dias antes, todas elas constituídas de figuras aramadas, envoltas por fios cravejados de minúsculas lâmpadas, representando renas, reis magos, pastores, o Menino Jesus, Santa Claus... E como era dia cedo, aqueles adornos portavam algo de esquisito, algo de ridículo, que somente à noite luzes acesas lhes poderiam conferir algum sentido estético ou lógico. Às portas pendiam as tradicionais meias de Papai Noel, ao lado de placas indicativas com os nomes dos habitantes daquelas propriedades: Herrera, Alvarez, Sanchez..., hispânicos, em sua maioria, mas os poucos que se viam às ruas eram pretos. Cercas. Havia cercas que meavam aqueles lotes, tinham não mais de um metro e cinquenta de altura, tecidas em telas uniformes, e havia cercas dando às calçadas, mas não eram divisórias fundadas para impedir a entrada de intrusos, senão - pensei - tinham a finalidade de demarcar virtuais territórios de posse. Grades. Havia grades às janelas de algumas casas, e eram obstáculos cujo sentido ainda não saberia decifrar, porque não estavam em todas as aberturas, mas apenas em algumas delas, as das fachadas, visíveis ao passante casual, como a anunciar impenetráveis fortalezas pessoais. O frio recrudesceu sob a densa sombra projetada por uma nuvem que cobriu as ruas, que varreu de vez o sol de Jamaica, sinalizando a chegada da neve que viria outra vez, agora sim, como o golpe de misericórdia sobre os pedaços de grama, sobre os jardins agonizantes, sobre as decorações de Natal que têm o seu tempo, sobre a vida que escoa em estertores que ninguém ouve. A cigarrilha apagou à primeira lufada de vento. Vi suas cinzas se dissipando no ar. Não caíram ao chão. Vesti com pressa a outra luva, meti as mãos no bolso, dobrei-me sob o casaco e fugi apressado de Jamaica.

5 de janeiro de 2008

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O MERIDIANO DE SÃO MARCOS, ou " O paradigma da Temporalidade "

Estava lá, sobre a parede. Eu vi. O relógio de São Marcos, marcando as oito e meia. Aos lados e embaixo dele, outros oito com os nomes de capitais: Tóquio, New York, Roma, Moscou... Então percebi que me encontrava numa metrópole. Num átimo, lembrei da Catedral de São Marcos, em Veneza, talvez pelo insistente vício em valorizar o que está longe de mim, no exterior, na Europa principalmente. E então me dei por ridículo, viajante desconhecedor do mundo, e, mais do que isso, ignorante da hora basilar da Humanidade. Foi assim que tudo aconteceu numa simples parada num posto de abastecimento, ao lado do qual se encontrava um hotel, e nele uma lanchonete na qual eu fatalmente iria encontrar um pastel, como de hábito faço quando tomo a estrada e paro para abastecer o carro. Parei de me preocupar com a própria natureza do pastel, quero dizer, se ele era feito na hora ou se era do dia anterior, porque o bom pastel – sempre – é aquele feito um dia antes, e que se come frio, suspendendo-o do prato com o auxílio de um guardanapo de papel que absorve aquela gordura natural de cor âmbar, alastrando-se em densas gotas sempre para um dos cantos do pires. E que não é de todo desprezível, pois confere à iguaria especial gosto e aroma. Este é o bom pastel. Mas, como eu dizia, era um mero posto de gasolina onde o frentista me aconselhou o hotel de estrada, onde pedi o pastel, já sentado ao balcão de onde, antes de ser servido, levantando os olhos ao acaso, deparei com o luminoso painel dos relógios no meio do qual se achava – hoje eu permito-me dizer – o da Capital do Tempo. Para quem ainda não descobriu o Paradigma da Temporalidade, em torno de São Marcos orbitam lugarejos menos luminares como Caxias do Sul, Ana Rech, Farroupilha, Lajes e Vacaria, e, num raio maior, cidades mais importantes que estas, mas ainda inferiores a São Marcos, como Porto Alegre, Montevideo e Buenos Aires. Perguntei ao dono da lanchonete como ele tinha tido aquele discernimento, isto é, a idéia do painel de relógios, ao que ele simplesmente respondeu: - Vi num lugar e copiei - sem dar-se conta da profundidade de minha pergunta e, menos ainda, da inocência de sua resposta, como observaria Bion, apenas com palavras mais contundentes. Pois foram os ingleses que copiaram São Marcos. E não só ele, o atendente da lanchonete, ignorava o fundamento daquele marco temporal, que faz jus ao nome do próprio Marcos, evangelista padroeiro de todos os marcos do Universo ( esta apenas uma interpretação minha, de caráter semiótico, quase psicanalítico ), mas também eu que, me entregando ali ao desvendar completo da sabedoria, descobri não estar simplesmente em frente de um conjunto de relógios, o de São Marcos no meio, mas sim diante da Hora Basilar da Humanidade, erroneamente, e desde sempre, por uma convenção qualquer, localizada em Greenwich, na Inglaterra. Que se danem os britânicos ! Por que não ? -, me indaguei abençoado por me encontrar ali em São Marcos, onde, graças ao tanque vazio do carro, à fome passageira, à minha cultura sobre pastéis de estrada e ao conselho do frentista, e lembrando-me do amigo Leonardo Francischelli, que há tempos apregoava a importância geopolítica de sua terra natal, graças a tudo isso, descobri que me encontrava onde Deus fundiu o Cronômetro do Mundo, o Meridiano de São Marcos, que por essas baldas de nosso complexo de inferioridade relutamos pusilânimes em aceitar como verdade.

Para o me amigo Leonardo Francischelli em seus 70 anos astúcia.

domingo, 6 de junho de 2010

de Eça de Queiroz

 
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O QUE SE ESPERA DOS POLÍTICOS

Reproduzo aqui um texto escrito por mim em outubro do ano passado.
Hoje, lendo a Revista VEJA, em relaçao à qual tenho lá muitas críticas, deparo com um artigo sobre o Agaciel Maia voltando à cena. Definitivamente, no Brasil não é muito difícil ser profeta.

Pesquisas recentes, quando perguntam ao eleitor o que ele espera dos políticos, apontam em grande parte a mesma resposta: - espero que eles sejam honestos. Esta resposta, reveladora da inquietação dos eleitores num país em que a roubalheira grassa, passou a representar um desvio do verdadeiro objetivo dos pleitos, qual seja, o de escolher homens e mulheres capazes tecnicamente de praticar a gestão publica com competência, conhecimento, planejamento e, fica implícito, também com honestidade. A honestidade não representa um fim em qualquer processo. Ela é apenas um meio. Entretanto, como quem não tem cão caça com gato, supõe-se que, pelo menos sendo honesto o político, já se tem meio caminho andado. A resposta mais ouvida nas pesquisas revela uma inverdade, pois nem todos os políticos são desonestos – mas trata-se de uma inverdade na qual se acredita quando se tem um amplo cenário de falcatruas protagonizadas pelos seres políticos de todos os poderes. Praticamente um terço dos congressistas enfrentam processos criminais, muitos deles já condenados até, mas continuam em seus postos, como se nada tivesse acontecido, e, mais ainda, habilitados a concorrer nas próximas eleições. Lembram do Agaciel Maia ? Pois bem, ele vai concorrer para deputado federal, e diz-se aqui em Brasilia - onde estou neste momento -, que tem grandes chances de vencer por larga margem, pois sua sustentação na campanha dar-se-á por corporações poderosas e interessadas em sua condução ao posto do qual poderá contribuir, de alguma forma, para o restabelecimento do trem da alegria do Congresso Nacional, o qual, aliás, há muito perdeu os freios. Não se pensa em competência. O exame do ENEM que o mostre. Tantas tecnologias e cuidados para reservar-se o sigilo de uma prova destinada a milhões de brasileiros, e ela é furtada por um simples funcionário da gráfica responsável por sua impressão. Não se pensou na árvore, mas apenas na floresta, ou vice-versa. A coisa foi protagonizada também por um dono de pizzaria, o que leva a crer que o imbroglio todo vai dar, como de praxe, em pizza. Depois que todos pensávamos que o Sarney estava encurralado, e que ele não tinha mais saída, e que ele iria cair de vez sob o peso de sua esperteza, foi ele na verdade quem nos encurralou a todos. “ Nunca antes na história deste pais “ se consolidou tanto a razão para que os cidadãos eleitores se contentem com uma única esperança: a de que os políticos sejam - ao menos - honestos.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

de Baudelaire

"Os sentimentos profundos têm um pudor que não quer ser violado".

Esta citação de Baudelaire vive em mim. Trata dos mais recônditos sentimentos que temos: nossos mistérios, nossa intimidade indevassável.É por isso que ela não me sai da cabeça.

terça-feira, 1 de junho de 2010

MARQUES DE SADE

 
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SADE, por SADE

Em Justine, ou Os infortúnios da Virtude, Sade apresenta de forma pragmática a lógica da natureza

:“ ...que se o mal persegue o bem, e se a prosperidade acompanha quase sempre o mal, a coisa estando igual aos olhos da natureza, é infinitamente melhor tomar partido entre os maus que prosperam do que formar fileiras com os virtuosos que fracassam. ”

Sobre SADE, os pensadores

“ É uma das grandes virtudes poéticas desta obra a de situar o panorama das iniquidades sociais e das perversões humanas à luz das fantasmagorias e dos terrores da infância. ”
André Breton

“ Sade foi um revolucionário, porque permitiu-se escrever sobre aquilo que não se podia falar, nem contar ”
Camile Paglia

“ Sade é um caso. Tudo nele é imenso e único, inclusive as repetições. Por isso nos fascina e alternadamente nos atrái e nos repele, nos irrita e nos cansa. É uma curiosidade moral, intelectual, psicológica e histórica. Sua vida não é menos extraordinária que sua obra. Foi preso por suas idéias; foi incorruptível e independente em matéria intelectual ( às vezes faz pensar Giordano Bruno ); enfim, foi generoso, até mesmo com seus inimigos e perseguidores. O filósofo do sadismo não foi aquele que vitima, mas uma vítima, o teórico da crueldade foi um bondoso. ”
Octávio Paz