quinta-feira, 29 de julho de 2010

segunda-feira, 26 de julho de 2010

A moral de cuecas

Com sessenta anos na cuca, não imaginava que ainda teríamos censura na TV. Pois é. Durante o período que antecede três meses às eleições de outubro, fica vedado fazer gracinhas sobre candidatos a cargos políticos pela TV. Já não bastava sermos obrigados a assistir a estas apresentações invasivas de programas eleitorais em nossas casas, e agora vem a tal lei da mordaça. Dizem que é em nome da equidade. Pois em nome da equidade, rasga-se uma página da Constituição e suprime-se um bem maior, o da liberdade de expressão, pois humor é, antes de tudo, liberdade de expressão. Foi o humor que salvou muita gente fadada à depressão. Além disso, ficamos sem opções para compensar essas torturas, como podíamos fazer assistindo a programas cômicos que, ao menos, nos divertiam.

BRASIL, SEMPRE PIADAS

A semana começa bem com a notícia de que há um projeto tramitando na Câmara e no Senado, pelo qual “a todo brasileiro ficará assegurado o direito à felicidade ”. Ora, vejam só se isto é motivo para se colocar no papel por escrito. Felicidade é direito de todo homem em qualquer lugar do mundo. Verdade que uma multidão de seres humanos não é feliz, mas não pela falta de um decreto. Mais um decreto. O Senador Cristóvão Buarque, a quem eu admiro por ser o nosso Don Quixote da educação, é favorável, e diz por quê. Porque é um direito do brasileiro e porque outros países como os Estados Unidos têm a mesma lei. Baita explicação. Para um energúmeno, evidentemente, pois sabemos que lá nos Estados Unidos, como na Bélgica, na Alemanha e em tantos outros lugares, estas coisas escritas são prá valer. Assim, alhures, quando está escrito que a todo o cidadão caberá aposentadoria digna, educação e saúde, estas são premissas comprometidas e honradas por governos sérios. Agora, aqui, onde já está escrito na Constituição Federal que educação, saúde e outras obviedades, são direitos do cidadão, isso simplesmente não funciona. Não que fosse errado assegurar estes direitos por lei, mas porque os que já existem no papel são ignorados na realidade. Estes decretos nascidos de ufanismo inconseqüente são, ademais, marcas registradas de políticos que despontam oportunamente mostrando serviço em tempos de sufrágio. Eles gozam da nossa cara graças ao nosso modo passivo em relação a eles. Esta é a piada da semana. Aguardem que logo vem mais.

domingo, 25 de julho de 2010

OS HÁBITOS DOS OUTROS

No centro da recente polêmica sobre a proibição de burcas e afins reside um resíduo de autoritarismo inexplicável para os padrões de regras de convivência da sociedade global. Sobretudo quando esta referência abrange os países europeus como um todo. A mesma França que valeu-se da mão de obra barata e conveniente vinda da Argélia em tempos de reconstrução no pós-guerra, esta mesma França, agora, anos depois e sem nenhuma reflexão memorial agradecida, se imiscui na cultura do islamismo proibindo o uso do véu. Pois foram os islâmicos que de forma particular, contribuíram para o reerguimento de países europeus dizimados pela Segunda Guerra. Antes ainda, à época das colonizações, foram pobres imigrantes em busca de melhores condições de vida que passaram a ocupar postos menos dignos da força de trabalho, situação que desde sempre tem perdurado a olhos nus na Inglaterra, sobretudo no caso dos indianos vistos a varrer corredores de aeroportos, e africanos em banheiros públicos parisienses, também atendidos por faxineiros de outras etnias. Nestes mictórios onde fedemos todos igualmente, só não se encontram franceses. Proibir o uso da burca e do simples véu (e eu não defendo a sua conveniência quanto à estética, mas tampouco posso crer que unicamente sejam usados por expressas ordens de maridos cruéis ), me parece algo inconstitucional em qualquer país democrático que se digne a rechaçar ondas autoritárias. Seria como proibir aos judeus ortodoxos de usar aqueles trajes e chapéus pretos, e aqueles cachos ( visivelmente ridículos aos olhos contemporâneos ), e mais ainda, de fazer com que seus filhos usem indumentária assemelhada. Será que estas crianças de livre vontade se vestiriam assim ? Trata-se de culturas diversas que em qualquer lugar do mundo deveriam ser respeitadas como tradições milenares que são. O mundo não nasceu na Europa e não surgiu da América, disso todos sabemos. Não há explicação justa para tais proibições. A sensatez, entretanto, ensina que há pontos de vista diferenciados sobre a matéria. O Ministro inglês da Imigração, Damian Green, em entrevista ao “Daily Telegraph ”, na contra-mão desta ignomínia discriminatória, afirma que “ dizer às pessoas o que elas podem ou não podem usar, se elas estão apenas andando nas ruas, seria algo não britânico.” Uma digna lição de civilidade, I suppose.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

PERVERSAS POSTAGENS

Diariamente recebo e-mails com mensagens sobre crianças desaparecidas, bebês com doenças irreversíveis de nascença, pedidos de ajuda urgentes, etc. Em geral, abrindo-os, aparece uma foto referente ao assunto e logo depois outra solicitação para navegar na internet com vistas a ajudar no caso. A questão é: abrir ou não abrir estes anexos ? Confesso que eu não os abro. Nunca. Mas cada vez que isso acontece,me dá uma dor no coração, me vem um chamado à consciência perguntando se não estou sendo duro ou insensível a uma causa pública da maior grandeza. Então o momento passa, tudo volta à normalidade até que, novamente, outra mensagem chega. E a história se repete. O receio está na ameaça de vírus que são diariamente criados por mentes perversas que, numa brincadeira ingênua ou num ato intencional de má fé terminam por criar um desserviço às causas humanitárias, ao exercício livre da cidadania e da compaixão pelo outro. Fico a pensar como podem existir estas pessoas. Assim como outras que ligam canais de emergência para anunciar incêndios, acidentes e outros casos inexistentes que demandam dispêndio de energia e de dinheiro público e privado, e que por vezes resultam em falta de atendimento a outros eventos que por estas mesmas razões tornam-se fatais. E pensando mais adiante me pergunto como não conseguimos estancar, pela via da tecnologia ( já que pela da índole humana a História já provou que somos incapazes ) o avanço desta praga imiscuída na ferramenta moderna e quase vital que se tornou a Web. Então eu me encontro impotente e desumano. E não abro mensagens dentre as quais haveria com certeza muitas a que eu poderia atender como uma gota de água no oceano.

DA SÉRIE “PRESIDENCIÁVEIS”

Imaginem todos que somente um dos presidenciáveis ( aliás, uma, a Marina Silva ) apresentou a documentação completa exigida pelo TSE na inscrição da chapa. Fosse o caso de um candidato a vestibular, por exemplo, seria eliminado. A pergunta que faço é a seguinte: Como alguém que pretende dirigir um país continental como o Brasil, ou mesmo uma republiqueta de bananas, pode esquecer um detalhe como este ? Como pode ? Pois bem, aqui no Brasil, ao lado de tantas outras coisas menores, pode-se, sim, esquecer detalhes que montam a dimensão da responsabilidade de intenções de um candidato à presidência do país. Quem cuida destes detalhes das candidaturas ? Ou o que faltou no prazo exigido a oito candidatos na inscrição da disputa ao cargo de mandatário da nação, representante de todos nós ? Este fato pode ser o sinalizador de futuras atitudes, de cuidados com a coisa pública, de desvelo profissional. Enfim, um item que deve ser analisado com maior cuidado pelos eleitores.

COPA DO MUNDO E PACOTES DE BONDADES

Nunca antes na história deste país temos visto tanta disponibilidade na liberação de recursos os mais variados visando à Copa do Mundo de 2014. Num repente, aeroportos serão ampliados, hospitais reformados ou construídos, vias pública duplicadas, tudo, enfim, será feito e resolvido. A pergunta que se faz é a seguinte: por que tais recursos só aparecem agora como num toque de mágica que tira o coelho da cartola ? A resposta óbvia é que estamos em ano eleitoral, ocasião propícia para àqueles que detêm o poder, diferentemente do que recomendava Maquiavel, distribuir “pacotes de bondades” estocados e amadurecidos como bons vinhos durante a safra da gestão pública e só revelados na hora extrema, ou seja no período pré-eleitoral. Então cabe perguntar por que tais recursos não eram disponíveis antes. A resposta óbvia é de que esta técnica, assemelhada àquela do bode na sala ( primeiro a gente põe o bode, e depois, quando todos reclamam do cheiro a gente o retira ) visa a dar a impressão de que somente após duros anos de administração pública desta ou daquela ala da vez, conseguiu-se “sanar” a economia, o equilíbrio entre receita e despesa, estas coisas óbvias das quais devem entender todas as donas de casa que vão aos supermercados. E estas coisas, que não deveriam ser em nada diferentes, tanto na área privada como na pública, convencem qualquer dona de casa. Em São Paulo, o governador e o prefeito fecharam os cofres às obras de um estádio especial para sediar a Copa de 2014. Ponto para estes senhores que acompanhados de um tristonho Ricardo Teixeira numa entrevista pública ( parecia que ele tinha perdido algum parente próximo naquela hora ), distribuíram publicamente não as boas notícias da praxe das promessas vãs, mas um sonoro NÃO a um investimento que teria utilidade durante trinta dias de 2014 e depois...e depois para quê, ou melhor dizendo, para quem ? Num país de tantas mazelas, cujo governo jacta-se de feitos extraordinários enquanto o déficit da previdência recrudesce como uma doença silenciosa ( poucas pessoas estão atentas a isso ), somente para citar um exemplo mais consistente, estas distribuições de bondades deveriam ser permanentes, deveriam, ainda que menores, ser administradas não como concessões patriarcais, mas como prática saudável de administração do erário.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

quarta-feira, 14 de julho de 2010

QUEM NÃO LEVOU UM TAPA, ATIRE A PRIMEIRA PEDRA

Se entendi bem, nosso presidente Lula não tem mais nada a fazer senão aguardar o término de seu mandato enquanto fica brincando. Talvez, neste caso, porque tenha sido ele mesmo objeto de agressões por seu pai na infância – conforme filme que conta sua biografia –, acaba de assinar proposta que prevê punição para pais que aplicarem castigos físicos em seus filhos. Até aí, num sentido amplo, nada contra. Mas é que fica proibido até mesmo o tapa, sim, aquele tapa, aquele cascudo que a gente dá com vontade vez que outra quando o filho não desiste de sua impertinência. Vencida a força e o argumento da voz de comando dos pais, resta o tapa. Quantos tapas foram necessários para forjar a boa educação dos filhos ? E agora esta frescura de que não se pode dar um simples tapa. Trata-se de uma invasão de privacidade da educação, pois nem todos os pais são os mesmos, e nem todos os filhos são iguais. Há coisas que não podem ser regradas por leis escritas sobre papel e que devem ser administradas segundo o bom senso e sem exageros.

E O DIVÓRCIO, QUEM DIRIA, FOI PARAR...

Quando eu casei pela primeira vez, em 1975, havia uma forte campanha contra o projeto de Lei do Deputado Nelson Carneiro instituindo o divórcio no Brasil. Campanha da Igreja, é claro. Para se flexibilizar o projeto, atenuou-se nele o que se pôde, até que ele foi aprovado com algumas ressalvas, sobretudo no que dia respeito a um período de três longos anos durante os quais os divorciandos ( pois este seria o termo apropriado ) poderiam refletir sobre o passo que haviam dado. Aprovada a Lei, logo, logo a foram flexibilizando, até que em 1988, pela Constituinte, entrou a figura da união estável, o que refletiu nos valores tradicionais do casamento e suscitou novos protestos. De lá para cá, a coisa ficou solta. Tão solta que esta semana foi aprovada uma lei que permite ao casal o divórcio já no dia seguinte. Uma espécie de rito sumário. E aqui eu vou dar o meu palpite: embora favorável ao divórcio, acho que estes passos mais recentes em relação à separação definitiva acabaram por banalizar o casamento. E o próprio divórcio. Ah, eu acho que estou ficando velho...

domingo, 11 de julho de 2010

VALEU, ESPANHA !

 
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E VIVA ESPANHA !

Para citar uma máxima do ex-deputado Jefferson já nem me lembro do quê, a Holanda despertou em mim os mais primitivos instintos. Em outras palavras, queria que eles se danassem. Não foram eles que desclassificaram o Brasil ? Como desejar a vitória deles neste caso particular em que jogariam contra um país latino ? Por isso torci pela Espanha, o que me parece óbvio ter acontecido à maior parte dos brasileiros. O posto, assim, é meio óbvio, mas é tudo o que posso fazer hoje depois de um jogo emocionante em que prevaleceu tradição e muita justiça.

terça-feira, 6 de julho de 2010

BRAVO, CELESTE !

 
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Adeus, Celeste

Para quem viu, foi espetáculo à parte a atuação do Uruguai contra a Holanda esta tarde. Embora tenha a Holanda ganho o jogo, a mim não pairam dúvidas sobre a superioridade do Uruguai e, em especial, sobre a bravura da equipe que, perdendo de 3x 1 quase no fim do segundo tempo fez mais um gol e ameaçou os cús-vermelhos a ponto de aterrorizá-los. Brava, equipe celeste, esperança dos uruguaios e dos brasileiros e dos sulamericanos ( tenho dúvidas quanto aos argentinos. O Uruguai hoje, de qualquer sorte, lavou a alma de um povo que, segundo galeano, é um povo feito de futebol.

Dona Yeda, sempre de salto alto...

A governadora Yeda Crusius confirmou presença ao debate na Rádio Gaúcha com demais candidatos à governança do Rio Grande do Sul. Entretanto, não compareceu, dando péssimo exemplo - bem ao seu jeito conhecido - de arrogância e impertinência. O que não se sabe é se ela tem medo de debater ou se julga-se acima dos demais candidatos, a ponto de ignorar a agenda pré-estabelecida. A senhora não tira o salto, acreditando que vale a pena continuar vendo tudo de cima.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

CLAUDIO MENEGHETTI SELECIONADO

As fotos abaixo compõem uma série intitulada "Autoestima ", trabalho do fotógrafo brasileiro Cláudio Meneghetti, que atua em Porto Alegre. Tive o prazer e a honra de ser o curador de uma mostra de fotógrafos brasileiros na França, da qual ele foi especial participante. Meneghetti foi o único artista sulamericano a ser escolhido para expor no Festival da Guatemala, conforme release abaixo, com texto de Paula Teitelbaum.

Em sua primeira edição, o GuatePhoto Festival celebra a fotografia contemporânea, buscando criar um panorama dos talentos locais e promover junto à comunidade internacional uma oportunidade de trocar idéias e discutir as novas tendencias da fotografia.

Dentro da programação do festival, a exposição principal conta com a presença do fotógrafo gaúcho Claudio Meneghetti. Mais conhecido como fotógrafo publicitário, Meneghetti apresentará seu trabalho autoral “Autoestima”, produzido em agosto de 2009, para a exposição coletiva “11 Photographes Brésiliens”, exibida na Galerie D`Art François Mansart, em Paris, sob curadoria de Paulo Amaral.

“Autoestima” foi um dos 15 trabalhos escolhidos em uma seleção que envolveu mais de 400 inscritos de 47 países. A série de fotos de Claudio Meneghetti é o única da América do Sul a constar na exposição.

O GuatePhoto Festival acontecerá de 6 à 31 de julho no Museu de Arte Contemporânea Carlos Márida, na cidade da Guatemala.


Autoestima

Em seu silêncio, as fotos de Claudio Meneghetti falam. Ou melhor, murmuram. E contam, com sua série de sutilezas, que é possível enxergar, ao mesmo tempo, o antes e o depois. Antes: a fome, o frio, a sujeira, o cansaço, a falta de rumo. Depois: a comida, o banho, a cama, o amor-próprio.

Seus personagens, moradores de rua de Porto Alegre, expressam a delicada – mas não menos severa – mudança que vem quando a autoestima é estimulada. São efígies que se formam num ensaio repleto de sombra e luz. Da sombra do abandono à luz do encontro.

Capturados de forma espontânea e natural, os modelos aqui são pessoas que vivem à margem: sob viadutos, marquises e o peso do preconceito. Claudio Meneghetti os fotografou ao chegarem nas entidades assistenciais – famintos, cansados, perdidos – e após receberem assistência. E, assim, eternizou a tênue linha que resgata a dignidade e o respeito. Perpetuando a vida que, por passar num piscar de diafragma, merece um olhar mais atento.


Paula Teitelbaum

AUTOESTIMA, de Cláudio Meneghetti

 
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domingo, 4 de julho de 2010

de Paulo Amaral

 
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E A VIDA CONTINUA...

Dessculpem os amigos que me visitam no Blog. Estive fora do ar por alguns dias. Passada a Copa ( porque para mim já está passada ), tento tirar algumas lições dela.
Primeiramente, não temos que vencer sempre. Se vencêssemos sempre não seria necessário fazer uma Copa para conhecer o vencedor. Óbvio. Em segundo lugar, há algumas coisas positivas em nossa derrota, e isso cada um lê como deseja. Por exemplo, passamos a trabalhar e a viver normalmente, o comércio retoma as atividades. Para quem não gosta de argentinos, viu-se a seleção do Maradona desclassificar-se depois das tantas bravatas tão peculiares àquele povo. Para quem gosta dos uruguaios, ainda há esperanças de que a Copa seja vencida por algum time sulamericano ( nunca se sabe quem vai vencer, por isso é que existe a Copa ). No plano político, para quem não gosta da Dilma, fica o alívio de que ela não vai faturar politicamenbte os louros secos de uma derrota. Para quem ama o Serra, ele fica com a vantagem de dizer que escolheram o time errado. E assim por diante, vamos tecendo uma corrente infindável de argumentos vazios e consistentes ao mesmo tempo.Simples coisas que nos ocupam. Isso é Copa. O resto é o silêncio das malditas vuvuzelas.