quinta-feira, 3 de novembro de 2011

POBRE DO RIO GRANDE II

Eu peço licença ao José Antonio Pinheiro Machado para usar o título de uma magistral crônica sua, publicada em Zero Hora de 23 de outubro. Nosso querido Anonymus Gourmet, como é conhecida esta figura única de nosso meio, referia-se às mancadas de nossos dirigentes políticos em relação às providências visando à realização da Copa das Confederações, infelizmente para sempre perdida, e já sinalizava uma advertência às ações em curso relativas à preparação para a Copa do Mundo. Explicou tintim por tirintintim a gênese de nossa arrogância, sempre baseada naquelas façanhas que deveriam servir modelo a toda a terra. Esta foi a minha leitura. E agora eu tomo emprestado o título da crônica do Pinheiro Machado para comentar a vinda de Ronaldinho para jogar contra o Grêmio ( meu time ), que resultou na acachapante e merecida derrota do Flamengo. Isso no que concerne ao esporte em si. Mas lemos por aqui tantas crônicas esportivas referindo uma revanche pessoal contra aquele jogador, que só fazem reverberar este espírito incorrigível do gaúcho, baseado, sobretudo, numa memória revanchista. Mais do que o resultado do jogo a favor do Grêmio, prevalecia o desejo de uma vingança moral, ainda que tardia, contra o jogador ingrato, cria tricolor que escolheu jogar no Flamengo e não no Grêmio, isso há mais ou menos um ano. Como se ele não poderia ter exercido o direito de optar pelo time em que deveria jogar após ter sido consagrado um dos maiores atletas do mundo. Escolheu o Flamengo, para não se dizer aqui que escolheu o Rio de Janeiro. Sabemos muito bem quantos cientistas, artistas, atores e escritores deixam o Brasil para prestar seus serviços no exterior, onde são mais bem acolhidos e mais bem pagos; ou quantos atletas de todas as modalidades vão para a Europa em busca de fama e da própria realização. Ora, por que razões haveria Ronaldinho de ficar aqui no Rio Grande quando alhures tinha uma oferta que mais lhe convinha ? Bem, é verdade, diz-se, que toda esta celeuma deve-se em parte ao fato de que o craque blefou enquanto andava em tratativas com os dois times sem decidir-se por nenhum. Mas, que eu lembre, ele não tinha empenhado palavra nem aqui nem acolá, e buscava uma posição que lhe fosse mais conveniente. E que jogue a primeira pedra aquele que, frente a uma decisão transcendental da qual depende seu futuro, não haja no seu próprio interesse. Enquanto ficamos aqui lambendo as chagas de feridas antigas, alienados de ações concretas, relevantes e urgentes, esquecemos que vai correndo o tempo que nos levará (?) à Copa do Mundo, em 2014, ou seja, o amanhã logo ali. Estamos preparados para receber estrangeiros com quem teremos de nos comunicar em outras línguas ? Nossos serviços serão condizentes com a demanda do importante evento ? Pergunto porque, além de devermos assegurar boas instalações em todas as áreas, teremos que nos ajustar a muitas circunstâncias, a começar pelos preços hoje em dia globalizados, que lá fora estão bem mais em conta do que os daqui, e não é porque o dólar está em baixa cotação ainda, ou porque o euro vive numa zona de risco, mas porque os nossos preços são mais caros na base de cálculo, isso sem falar na pobre qualidade de nossos serviços em geral, indiscutivelmente discutíveis. Basta viajar um pouco para se ter uma vaga certeza disso.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

E CORRER, PODE ?

A peça publicitária em que Gisele Bündchen aparecia em lingerie, tentando obter a compreensão do marido - parece mentira -, ocupou tanto espaço dos órgãos responsáveis por considerações reguladoras de um sistema pretensa e politicamente correto, se é que podemos dizer assim. Foi mais um ato da ineficiência dessas repartições que não têm mais nada o que fazer. Na prática, terminou por impedir a exposição de alguma coisa que ao menos faria bem aos olhos e à alma, muito mais que tantas obras de arte que andam por aí, e nem de perto comparáveis à obra-prima-viva que é a Gisele, ainda mais em lingerie. O ato faz parte dessas investidas da burocracia brasileira que, mergulhada num mundo de faz-de-conta, deixa de ver – e de fazer - o que realmente interessa. Em matéria de publicidade, pouco se fala sobre peças que contêm forte estímulo ao consumo de álcool, ao mesmo tempo em que de outro lado institutos e fundações procuram desesperadamente coibir os acidentes causados pela bebida. Indo por aí, deparamos com outro assunto afim, sobre o qual nada se fala: a publicidade de veículos, em geral grandes e potentes camionetes com seus donos que dirigem perigosamente e que por vezes falam no celular ao volante. Quem me chamou a atenção sobre isso foi meu irmão mais novo, que perdeu sua primeira filha num acidente de carro. Subliminarmente eu já concordava com a idéia, mas passando a observar melhor, percebi que na prática todas as peças publicitárias sobre veículos contêm imagens de camionetes que saltam montanhas e que transpõem obstáculos inimagináveis. Ou de automóveis que andam perigosamente a toda velocidade dentro da cidade. E de motoristas que fazem “pega” em subsolos de edifícios. E de outros que estacionam em alta velocidade dando um bem sucedido cavalo-de-pau. Tudo isso como nos filmes de ação a em que polícia corre atrás do bandido. Alguma imagem de um automóvel em baixa velocidade, passeando pelo campo, por exemplo, com um casal observando a natureza antes do piquenique que vai fazer, algo assim contemplativo como a Gisele Bündchen em lingerie, alguma coisa que realmente faça bem aos olhos e à alma, nem pensar. Acho que já é tempo de nos ocuparmos deste assunto, quando mais não seja para, a exemplo das peças publicitárias apregoando o charme do drink do final do expediente, pelo menos aplicarmos em correspondência alguns dizeres ao final da propaganda, como: “Se for dirigir, não corra”. Será mais uma hipocrisia, isso sabemos, mas pelo menos poderemos dizer, como no caso da bebida alcoólica, que houve tanta preocupação sobre este assunto quanto sobre o da Gisele em lingerie.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O PAÍS DA COPA

O PAÍS DA COPA
Minha colega Maria Tereza teve de cancelar sua viagem ao exterior, pelo que solicitou ao Programa Smiles a transferência do vôo para outra data. Então disseram a ela que havia uma taxa a ser paga, mais precisamente a taxa de embarque que, na primeira reserva, ela já tinha pago. É claro que ela ficou indignada, apesar de o valor ser de apenas uns R$ 40,00. Mas não é o valor o que incomoda Maria Tereza, e sim o fato de quererem cobrá-lo novamente. Se ela não embarcou, não se produziram, proporcionalmente a sua pessoa, as despesas de embarque respectivas. Então, por que pagar duas vezes pelo que não se consumiu mais do que uma vez ? - Com quem fica este dinheiro ?, pergunta Maria Tereza. Assim são as companhias aéreas. A TAM, em seu programa de fidelização, deu um verdadeiro calote em seus clientes ao unilateralmente decidir pela exigência de duplicação de pontos para se exercer o direito de vôo em alguns trechos. Isto é, o passageiro acreditou na empresa e dela tornou-se cliente fidelíssimo. Depois veio a imposição descabida da TAM. E o cliente ? Ficou na mão ? Só se quiser, pois este é o tipo de atitude que até o contínuo da faculdade de Direito sabe que não passa sem reparação num tribunal. Isso acontece no país que receberá a Copa, onde, no Rio de Janeiro, por exemplo, o Aeroporto de Congonhas, em sua ala antiga, só tem banheiros no andar superior e nos quais não há fechaduras nos compartimentos de privadas. - Gague-se com uma promiscuidade dessas ! Eu, por exemplo, não consegui, e como tinha muito tempo de sobra, resolvi tomar um ônibus do aeroporto para o Leblon. Como não havia placas indicativas, perguntei a um guarda municipal que monitorava o trânsito de chegada e saída do aeroporto. Ele me disse que era um ônibus amarelo. - Amarelo ?, perguntei, pois já avistava dois, e cada um com dizeres diferentes. Fui aos dois, e não era nenhum. O motorista do último me informou que era um ônibus azul, e o primeiro que avistei, depois de longa espera, continha aqueles dizeres luminosos indicando o itinerário: Flamengo, Copacabana, Ipanema, Leblon, Barra... Como outros passageiros que estavam ali perdidos havia já algum tempo, desloquei-me para entrar no ônibus. Mas fui atrás de todos e ainda resolvi perguntar, na dúvida: - Vai para o Leblon ? E o motorista respondeu: - Não, este vai para o Galeão. Os passageiros desceram indignados, mas havia alguns estrangeiros, japoneses, que não disseram nada. Apenas apearam, amparados por passageiros que falavam inglês e explicaram o que se passava. Voltamos à parada. Mais tarde, veio outro ônibus azul com aqueles mesmos dizeres: Flamengo, Copacabana... Mas este deu certo, este era o correto. Há outro problema muito sério, que merece capítulos: os preços cobrados nos serviços de aeroportos: lancherias, farmácias, livrarias, em geral tudo mais caro ao menos duas vezes. E de qualidade indiscutivelmente inferior. Experimente comprar um pacotinho de Halls em qualquer aeroporto. Sai de duas a quatro vezes mais, dependendo do lojista ou da cara do cliente. Este é um assunto gravíssimo que só não há de espantar turistas porque eles já terão chegado e não terão opção de desistir de enfrentar o país da Copa. Há muito que fazer além das obras que receberão a Copa, sobretudo na infra-estrutura de educação e civilidade. Precisamos urgentemente de mais um PAC só para este fim. Mas aí...

sábado, 13 de agosto de 2011

LEGADOS DE IANELLI, matéria escrita para o Joirnal ZERO HORA, publicada em 13 de agosto de 2011



Contemplar a obra de Arcângelo Ianelli equivale a passear pelos melhores caminhos da arte brasileira guiado por quem sempre ocupará privilegiado assento entre os grandes mestres da pintura e da escultura. Ianelli trilhou uma carreira visivelmente gradativa, construiu uma obra Suo tempore, sobretudo coerente e plasmada no profundo conhecimento das cores que soube distribuir sobre telas de rara plasticidade. É, em resumo, um artista digno de ser exposto nos maiores museus do mundo. Estes, muitas vezes, apresentam espaços exíguos, o que os obriga a formar acervos limitados, e de forma geral dispõem de verbas minguadas, que os impedem de adquirir novas obras. Mas estas circunstâncias, considerando Arcângelo Ianelli, não justificam que se refutem obras-primas de artistas de sua densidade. No ano passado, o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), do qual Ianelli foi estreito colaborador durante sua vida, e de cujo Conselho participou intensamente, rejeitou 14 das 16 obras deixadas em testamento pelo artista, falecido em 2009. A alegação do MAM foi de que eram redundantes em relação a outras do mesmo Ianelli já existentes no acervo da entidade. À polêmica, amplamente discutida pela imprensa do centro do país, estarrecidos com a decisão do MAM, juntaram-se vozes respeitáveis como as de Ferreira Gullar, Fábio Magalhães e Emanoel Araújo. Também ao MARGS, que não possui nenhum exemplar de sua obra, Ianelli legou 15 expressivos trabalhos, dentre os quais duas primorosas marinhas pintadas a óleo, datadas de 1958, quando o artista encontra o esplendor de sua preciosa fase figurativa. Estes quadros estão catalogados no livro IANELLI – Os Caminhos da Figuração, editado pela FAAP por ocasião de uma retrospectiva do artista, ocorrida no Museu da Arte Brasileira, em 2004. Outra tela doada ao MARGS (óleo nas dimensões 2,00mx2,50m), pertence à fase mais conhecida por Vibrações, na qual o artista coroa sua extensa carreira, esbanjando absoluto domínio da luz e dos efeitos de transparência. As demais obras são sete pastéis sobre papel, quatro gravuras e uma escultura, todas elas igualmente importantes. Trata-se, em poucas palavras, de uma seleção ampla e expressiva da trajetória de Ianelli, capaz de sozinha sustentar uma exposição gloriosa. Entretanto, estas doações, ofertadas há mais de um ano e meio, ainda não participam do acervo do MARGS pela falta de recursos da entidade para o pagamento de um imposto de transmissão de valor pouco inferior a R$ 8.000,00. Este caso, paradoxal por sua natureza, suscita uma reflexão sobre o descaso dos governos para com a Cultura em geral. Num Estado como o nosso, em que o orçamento destinado à área mal alcança meio por cento do geral, torna-se difícil chancelar a seriedade da gestão pública que não valoriza uma generosa doação de bens avaliados em torno de meio milhão de reais e que não é acolhida por ser indisponível irrisória cifra para o pagamento de uma simples taxa. O fato reproduz um pouco a história da administração pública do Brasil, onde é comum acontecer que se percam projetos e oportunidades por “decorrência de prazo”, isto é, um eufemismo para exprimir inépcia. As obras de Ianelli foram indiscutivelmente aceitas pelo núcleo de acervo do MARGS, ao contrário do que se passou no MAM de São Paulo. Mas remanesce, fruto de uma política equivocada do governo em relação à história de um museu com mais de meio século de existência, uma pendência tão prosaica quanto inaceitável. Alguma solução poderia vir da Associação de Amigos do MARGS, suporte financeiro do museu, entidade que há alguns anos, através de um organizado trabalho junto a mecenatos, logrou adquirir um pequeno acervo em número de peças, mas rico em conteúdo, no qual pontificava uma estupenda tela de Guignard. Cabe à Associação de Amigos procurar recursos para cumprir metas do cotidiano - e ressaltemos que esta não é uma meta do cotidiano, mas uma ação que, a um custo simbólico, pode significar a aquisição da década para o acervo do maior e mais importante museu de arte do Rio Grande do Sul. O risco que corre o MARGS em acabar não recebendo as obras de Ianelli é maior do que se possa imaginar, porquanto a família do artista aguarda o pagamento do imposto de transmissão para o efetivo encerramento do inventário. Até quando poderão os doadores, por interesse próprio ou por imposições legais, manter em aberto este processo ? A decorrer algum prazo retardatário além do admissível, estas obras poderiam ser oferecidas a outros museus nacionais e estrangeiros que as receberiam com festas de foguetório, como o fizeram o MASP, a Pinacoteca e o Museu da Arte Brasileira, todos de São Paulo. Raramente ocorre a oportunidade de um artista do quilate de Arcangelo Ianelli legar grupos de obras a entidades, e menos ainda seus testamenteiros insistirem em levar tal missão ao cabo. Estas considerações terminam por evocar outra, de caráter institucional. Museus no mundo inteiro cobram ingressos para a visitação, muitas vezes estabelecendo diferentes classes de tarifas de acordo com a importância e o número de exposições exibidas. A França, onde os museus nacionais são congregados por uma só entidade, a Réunion des Musées Nationaux, isso é tratado assim na integralidade. No Reino Unido, excepcionalmente, há algumas políticas de gratuidade, mesmo em casas importantes como a Tate Britain. Mas a opção do Estado inglês em subsidiar estas visitas é compatível com a devida contrapartida financeira por ele alcançada aos museus que não cobram ingressos. Aqui, diferentemente, o Estado não se interessa por dotar museus de verbas compatíveis com um funcionamento digno. Não é difícil compreender este tabu da não cobrança. Ele está preso a um antigo conceito de Estado paternalista em que prevalece a noção de que a arte é ainda-e-para-sempre incipiente, e que cobrar ingressos de um público específico significaria uma afronta a toda luia sociedade. Uma grande falácia. No caso da doação Ianelli, por exemplo, o imposto de transmissão já há muito tempo teria sido pago com recursos diretos de ingressos. A cobrança, mesmo que simbólica, e excetuados alguns casos como os de estudantes e idosos, por exemplo, valoriza os museus ao mesmo tempo em que move a economia da cultura: para os museus, mais acervo, mais publicações, melhores condições disponíveis ao usuário e, por consequência, maior visitação; para os artistas, maior reconhecimento de seu fazer; para os marchands, melhores vendas e mais compras aos que produzem arte. É um ciclo saudável e compatível com a realidade de um país como o nosso, cujo governo se jacta de enfrentar crises econômicas com galhardia e incentiva o consumo a rodo. Que consumamos cultura, pois, e que possamos perceber o baixo custo para o enriquecimento da alma. Ars longa, vita brevis.


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

CRÔNICA DE UMA IMPROBIDADE ANUNCIADA

E o Natal Luz, de Gramado, vai dar muito ainda o que falar. O senhor Luciano Pecin, que com sua arrogância sempre se julgou acima da lei, inclusive, agora vai ter de se explicar. Começou contratando um bom advogado, é claro, e é pela boca deste que falará, pois falar, ele próprio, só com muita cara de pau. Aliás, fica uma pergunta: O que tem a LIC a ver com o Natal Luz ? Como diz o Boris Casoy, ISSO-É-UMA-VER-GO-NHA !

NELSON JOBIM, O BÔBO DA CORTE

Ocupante de um ministério opaco, bem próprio para um dirigente que tenha um perfil enrustido como o ministro Jobim, terminou o mesmo caindo hoje, depois de bater de frente com a presidenta Dilma fazendo declarações insólitas e absolutamente desnecessárias, e, sobretudo, absolutamente dispensáveis por qualquer um. Razões para tal ? Somente alguma coisa relacionada ao narcisismo de Jobim, como se pudesse reverberar sua saída por conta própria ou exoneração de um ministério sem importância, e como se fosse grande figura da República. Grande figura da República é o safado do senador Romero Jucá que faz e acontece nas nossas barbas e não fazemos nada contra ele e este estado de coisas. Até, quem sabe, isso aqui vire um Egito...

segunda-feira, 9 de maio de 2011

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Pode ou não pode ?

PODE OU NÃO PODE ?

Há quem não acredite que Osama bin Laden tenha morrido. Afinal, mataram a cobra e mostraram somente o pau. Faltou a foto. Da mesma sorte, houve gente que morreu sem acreditar que o homem tenha um dia ido à Lua. Ora, Osama bin Laden com certeza morreu no ataque relâmpago noticiado, até agora sem detalhes, pela TV. E Barack Obama não seria louco de ousar tamanha bravata, pois correria toda a sorte de riscos, principalmente o da não reeleição, agora aparentemente garantida. Imaginem se Bin Laden aparecesse amanhã como prova viva para desmentir... Mas o que de fato pode voltar-se contra os USA numa tragédia vingativa por parte de fundamentalistas islâmicos, o que pode vir a empanar aqueles breves e ilusórios festejos no Marco Zero, está a suscitar outras questões que pouco a pouco começam a ser discutidas pela comunidade internacional depois da sedimentação da breve poeira levantada pelos recentes fatos. Questões, sobretudo, de cunho ético. A primeira delas é: podem os Estados Unidos, sem o conhecimento do governo de um país estrangeiro, invadir o território deste e executar uma operação militar ? Afinal, vamos lembrar, Israel, por exemplo, já fez isso quando da invasão de Uganda na tentativa - bem sucedida - de libertar reféns judeus feitos por aquele país. Mas ali era outro o caso; tratava-se de uma resposta direta a um país agressor, que teve em seu ditador Idi Amin Dada o principal protagonista do evento. Era uma ação legítima de resgate, e não havia outra saída. Aqui foi fato diverso. O Paquistão não esteve na mira da ordem do dia da ação militar americana, mas sim Osama bin Laden, um refugiado, casualmente ( ou não ) no mesmo país. Mas afinal, pode ou não pode ? No caso dos USA – como sempre –, diz-se que sim. Vale a lei de Talião, “olho por olho, dente por dente”, o que significa em toda a sua extensão primitiva: “Osama nos atacou, nos humilhou, e nós o matamos”. Razões para intuir tal pensamento, é claro, não faltavam. Trocaram um só assassino por quase três mil vítimas do World Trade Center fora centenas de outras vítimas de ataques terroristas comandadas por Bin Laden. O terrorista, inimigo número 1 da América, não era mais uma ameaça. Era um fetiche semi-vivo, pois estava virtualmente aprisionado, apenas numa mansão, e não numa cadeia. Outra pergunta, esta de caráter menos urgente, mas ponderável sob o olhar religioso: podem os Estados Unidos encomendar o corpo de um assassinado inimigo sob uma oração muçulmana proferida em inglês e traduzida, sabe-se lá por quem, para o árabe ? E depois jogarem o algoz ao mar ? Os USA, como sempre, tudo podem, e a ONU que se lixe, ou que os apóie num rito ratificador depois do feito, pois isso não fará a mínima diferença. Agora, imaginemos a situação contrária. Poderia ? Aí não, é claro. Não há dúvida de que Obama tem sido mais prudente do que Bush em suas ações militares, mas a aceitação pacífica destas atitudes perpetradas em nome do bem contra o mal, como se fosse assim tão cristalino distinguir entre ambos, fazem com que deixemos de exercer, em nome da razão mais elementar, uma análise menos apaixonada e mais judiciosa. A correr por aí como as coisas têm acontecido, a se apregoarem argumentos assim validados, a se manterem prisões ilegais mundo afora, como na Polônia e em Guantanamo, onde prisioneiros eram torturados ( não o serão mais? ), os Estados Unidos, na suposição de defenderem seus interesses diretos, continuam legando ao mundo uma lição de democracia perversa e destoante com as tradições da Declaração da Independência sob Thomas Jefferson. Como diz o vulgo, “ uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa ”. Mas para a América não parece. E nem precisa.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

quarta-feira, 13 de abril de 2011

de Machado de Assis

"...um dos ofícios do homem é fechar e apertar muito os olhos, e ver se continua pela noite velha o sonho truncado na noite moça ".

sábado, 9 de abril de 2011

de Gabriel García Marquez

"La fuerza invencible que ha impulsionado al mundo non son los amores felices, sino los contrariados ".

sexta-feira, 8 de abril de 2011

de Federico Fellini

" Ä televisão é uma corruptora astuciosa que apaga nossa capacidade de julgamento e simula um mundo sintético que devemos assimilar. Pior ainda: que queremos assimilar "

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Sem palavras

Se pudesse aconselhar alguém, pediria que não assistissem aos noticiários de hoje em relação à chacina de crianças em uma escola no Rio de Janeiro. Não é fato para nos envergonhar a nós brasileiros, mas à raça humana mesma. Um serial killer, um desatinado delirante, é só isso, percebo agora, eu que criticava atitudes assim nos USA e na Europa. Será que me tornei apenas um pouco mais humano ?

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Por que me acordar ?

Esta ária, guardadas as proporções de sentido a que se propunha ( Werther e sua tragédia ), traz-me esta pergunta sobre o caso do vôo da Air France, prestes a ser desvendado. Por que acordar-me ?

Pourquoi Me Reveiller ?

Novidades no caso Air France

O tempo se encarrega de ajustar a conexão dos fatos. Finalmente surge uma luz sobre as causas do acidente da Air France, ocorrido há quase dois anos. Esforços que incluiram a equipe que descobriu o Titanic no fundo do mar encontram agora, em relativa proximidade entre si, destroços da fatídica viagem, e corpos atrelados aos assentos do avião. O imaginário daqueles que ainda relutam em aceitar a morte de seus parentes e amigos poderá, finalmente, ajustar-se à aceitação de uma verdade contundente: todos morreram. Perdi um casal amigo naquele vôo, O Dr. Roberto Chem, sua esposa Vera e uma filha. Às vezes imagino que não tenham morrido. É um fato quase inexplicável.

quarta-feira, 30 de março de 2011

terça-feira, 22 de março de 2011

terça-feira, 1 de março de 2011

TEXTO SOBRE MOACYR SCLIAR PARA O JORNAL USINA DO PORTO

É difícil escrever sobre alguém que não se conheceu na intimidade, mas quando muito de passagem, e fazer isso justamente em homenagem a essa pessoa que se foi. Tive duas oportunidades de falar com Moacyr Scliar, ou, melhor dizendo, encontramo-nos durante duas atividades de trabalho. Uma vez foi no MARGS, para o lançamento do projeto do filme “O Exército de um Homem Só”, baseado em livro de sua autoria. A outra foi no Theatro São Pedro quando a convite da Federação Israelita do RS fui mediador de um debate após a exibição de estréia da peça “A Alma Imoral”, de Nilton Bonder, magnificamente interpretada pela atriz Clarice Niskier. Nas duas ocasiões – e ele era já imortal – deparei com um homem que de saída não sorria muito; ao contrário, parecia incomodado com alguma coisa. Quase emburrado. Depois, no decorrer de suas intervenções espirituosas a não mais poder em tais ocasiões, principalmente quando abordava o humor judaico do qual foi contador mestre, ele ia se soltando, ia esboçando certa familiaridade com o ambiente, e terminava num sorriso levemente aberto, revelador do homem verdadeiro que guardava escondido em si. Agora, de matéria pronta para este espaço no USINA DO PORTO que já ia ao prelo esta manhã, o Jorge Olup, nosso editor, me pede para escrever alguma coisa sobre o grande imortal da Academia Brasileira de Letras, que ocasionalmente escreveu para este jornal. Então ocorreu-me apenas repetir uma síntese de depoimentos que ouvi e li hoje sobre o Moacyr Scliar, dos quais sobressai a certeza de que ele foi um espírito agregador e um homem generoso. Talvez por sua humildade de toda a sorte, como aquela que o fazia repetir a história real de que em sua infância ele e os irmãos, que viviam com os pais pobres no Bom Fim, tinham os lençóis feitos de sacos de farinha usados. Talvez isso tenha formado o caráter de um homem frugal, visivelmente comedido nos chás da Academia, como conta Carlos Nejar, seu colega gaúcho de imortalidade. Scliar foi, como disse Affonso Romano de Sant’Anna, um escritor que construiu sua obra pelo trabalho metódico, disciplinado, isto é, folha sobre folha, capítulo sobre capítulo, sem preocupar-se com a fama. Incansável homem das letras, que deveria servir de modelo aos novos pretendentes escritores. Algumas vezes ele forneceu artigos aqui para o USINA DO PORTO, atendendo ao pedido de nosso editor, sempre em busca de matérias de qualidade. E escreveu de forma gratuita, com todo o desapego. A questão seria perguntar por que um escritor com mais de setenta obras traduzidas para dezenas de idiomas, articulista de jornais nacionais da maior envergadura, três vezes detentor do Prêmio Jabuti de Literatura atendia prontamente às solicitações do USINA DO PORTO. Faltou-nos alguma vez perguntar isso. É que Scliar prezava a cultura em geral, e a de sua cidade, Porto Alegre, em particular. Estes valores estavam acima de outros e constituíam em verdade a razão de sua existência como médico sanitarista e escritor notável. Atendia a todos e sempre que podia. A nós faltou a hora de agradecer-lhe para sempre e de todo o coração, porque não podíamos imaginar que ele ia partir tão cedo.


Paulo C. Amaral

domingo, 27 de fevereiro de 2011

SELVAGERIA II

Porto Alegre presenciou na sexta-feira passada um ato de selvageria digno de manchetes internacionais. Não é por menos que as visualizaçoes dos vídeos didponíveis no YouTube atingiram números recordes. Eu estaria presente a este evento, convidado que fui pelos organizadores do MASSA CRÍTICA. Mas no dia não pude ir. Eu me pergunto se escapei por esta razão. Acho que não, porque em qualquer rua da cidade, na calçada, meio-fio ou puista de automóveis, estamos sujeitos a ser atropelados por um louco. E este cara... Estragou a sua vida, sem dúvida, pois não escapará da prisão preventiva. Acessem YouTube: vídeo Atripelmento Massa Crítica.

Atropelamento em Massa na Massa Crítica Porto Alegre

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Da Arábias

Passados alguns dias de euforia em relação às mudanças bruscas de governos no continente africano, começa a surgir a preocupação evidente baseada na dúvida de quem substituirá aqueles ditadores jurássicos. Nunca é demais repetir que há males que vêm para o bem. Talvez se possa vislumbrar uma hipóetese inversa, a de que há bens que podem trazer o mal. Discussões à parte, no que concerne o valor de uma ditadura ou de um regime democrático, a pergunta agora é: Nas mão de quem aqueles povos ( Tunísia e Egito, e quem sabe a Líbia, o Barein e outros )ficarão ? Seja qual for a resposta, ela baterá à porta do mundo inteiro levando pesada interrogação e advertência.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

QUE PAÍS É ESTE ?

Não é demais perguntar que país é este, em que um ministro da República, o Sr. Lobão, vem de afirmar em público que a rede energética brasileira é das mais evoluídas do mundo. A cada mínima oscilação meteorológica cai uma fase ou falta luz - pelo menos na cidade em que resido, Porto Alegre. E com tal cara de pau deste apaniguado do Senado Sarney, imperador branco da política nacional,vamos seguindo, nossos governantes fazendo chacota do povo, afirmando escancaradas inverdades. Ou este ministro é bobo, ou é burro, ou é mal-intencionado. E continua ministro. Qualquer uma das premissas de sua condição, citadas aqui, é razão para sua imediata demissão e substituiçao, em seu lugar, de algum cidadão técnico que entenda do assunto e que o resolva, pelo menos com um programa de médio prazo, mas com algum programa.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Era no tempo do rei, de Ruy Castro

 
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Bom livro

Para quem leu 1808 e 1822, obras maravilhosas de Laurentino Gomes,vale a pena conhecer a hitória da Corte Portuguesa no Brasil sob outro viés, o da pesquisa estudiosa, na qual, aliás, baseou-se Laurentino Gomes. De autoria de Patrick Wilcken, australiano. Outro livro maravilhoso é " Era no tempo do rei ", do grande Ruy Castro, mesmo autor de " O Anjo Pornográfico ". Trata-se de um romance, ficção, mas baseado na realidade. Muito a ver com todos os livros aqui mencionados.

No rastro de 1808 e 1822

 
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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

FORA DO AR

Numa dessas intermitências que a vida nos impõe, andei parado com o blog. Natal, férias, vagabundagem, tudo isso junto, mais a falta de assunto, me tiraram do ar. E já vou avisando: vou sair do ar outra vez, pelo menos por duas semanas, agora de férias de verdade. De novo, só aquele imbroglio do Egito, que promete se estender um pouco mais. Na verdade eu pereferiria que o Mubarak ficasse, antes que a moda dos golpes pegue.Deixei aí em cima um quadro bem recente, terminado esta semana. É um dos bons trabalhos recentes e será publicado na minha página no livro dos 60 Anos da Academia Brasileira de Belas Artes. Abraços a todos.

NY CITY, Cidade, de Paulo Amaral

 
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