segunda-feira, 9 de maio de 2011

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Pode ou não pode ?

PODE OU NÃO PODE ?

Há quem não acredite que Osama bin Laden tenha morrido. Afinal, mataram a cobra e mostraram somente o pau. Faltou a foto. Da mesma sorte, houve gente que morreu sem acreditar que o homem tenha um dia ido à Lua. Ora, Osama bin Laden com certeza morreu no ataque relâmpago noticiado, até agora sem detalhes, pela TV. E Barack Obama não seria louco de ousar tamanha bravata, pois correria toda a sorte de riscos, principalmente o da não reeleição, agora aparentemente garantida. Imaginem se Bin Laden aparecesse amanhã como prova viva para desmentir... Mas o que de fato pode voltar-se contra os USA numa tragédia vingativa por parte de fundamentalistas islâmicos, o que pode vir a empanar aqueles breves e ilusórios festejos no Marco Zero, está a suscitar outras questões que pouco a pouco começam a ser discutidas pela comunidade internacional depois da sedimentação da breve poeira levantada pelos recentes fatos. Questões, sobretudo, de cunho ético. A primeira delas é: podem os Estados Unidos, sem o conhecimento do governo de um país estrangeiro, invadir o território deste e executar uma operação militar ? Afinal, vamos lembrar, Israel, por exemplo, já fez isso quando da invasão de Uganda na tentativa - bem sucedida - de libertar reféns judeus feitos por aquele país. Mas ali era outro o caso; tratava-se de uma resposta direta a um país agressor, que teve em seu ditador Idi Amin Dada o principal protagonista do evento. Era uma ação legítima de resgate, e não havia outra saída. Aqui foi fato diverso. O Paquistão não esteve na mira da ordem do dia da ação militar americana, mas sim Osama bin Laden, um refugiado, casualmente ( ou não ) no mesmo país. Mas afinal, pode ou não pode ? No caso dos USA – como sempre –, diz-se que sim. Vale a lei de Talião, “olho por olho, dente por dente”, o que significa em toda a sua extensão primitiva: “Osama nos atacou, nos humilhou, e nós o matamos”. Razões para intuir tal pensamento, é claro, não faltavam. Trocaram um só assassino por quase três mil vítimas do World Trade Center fora centenas de outras vítimas de ataques terroristas comandadas por Bin Laden. O terrorista, inimigo número 1 da América, não era mais uma ameaça. Era um fetiche semi-vivo, pois estava virtualmente aprisionado, apenas numa mansão, e não numa cadeia. Outra pergunta, esta de caráter menos urgente, mas ponderável sob o olhar religioso: podem os Estados Unidos encomendar o corpo de um assassinado inimigo sob uma oração muçulmana proferida em inglês e traduzida, sabe-se lá por quem, para o árabe ? E depois jogarem o algoz ao mar ? Os USA, como sempre, tudo podem, e a ONU que se lixe, ou que os apóie num rito ratificador depois do feito, pois isso não fará a mínima diferença. Agora, imaginemos a situação contrária. Poderia ? Aí não, é claro. Não há dúvida de que Obama tem sido mais prudente do que Bush em suas ações militares, mas a aceitação pacífica destas atitudes perpetradas em nome do bem contra o mal, como se fosse assim tão cristalino distinguir entre ambos, fazem com que deixemos de exercer, em nome da razão mais elementar, uma análise menos apaixonada e mais judiciosa. A correr por aí como as coisas têm acontecido, a se apregoarem argumentos assim validados, a se manterem prisões ilegais mundo afora, como na Polônia e em Guantanamo, onde prisioneiros eram torturados ( não o serão mais? ), os Estados Unidos, na suposição de defenderem seus interesses diretos, continuam legando ao mundo uma lição de democracia perversa e destoante com as tradições da Declaração da Independência sob Thomas Jefferson. Como diz o vulgo, “ uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa ”. Mas para a América não parece. E nem precisa.