sábado, 9 de outubro de 2010

PAROLE, PAROLE, PAROLE...

Dizia um padre de minha escola ginasial católica, em Porto Alegre, que o Titanic teria afundado por uma única razão: a de apregoar-se que, sendo o mais rápido, o mais moderno e o maior navio de sua época, construído pela melhor tecnologia de até então, nem mesmo Deus poderia afundá-lo. Pois o Titanic foi a pique na primeira viagem, apesar do poderoso nome que portava, levando a bordo os blasfemos que desdenharam o poder divino. A Igreja ( e hoje todas as Igrejas ) sempre desempenhou papel fundamental no curso dos acontecimentos do mundo, sobretudo pelos presságios de que foi porta-voz. E hoje nos vemos diante do segundo turno da eleição presidencial de um país continental como o Brasil, onde a opinião do clero pode outra vez pesar. Mas, será mesmo ? Os candidatos, ambos de qualidades particularmente raras – e não necessariamente antagônicas – passaram a versar sobre temas religiosos, assim como outros de caráter ambientalista, preocupações acalentadas desde a tenra infância de ambos, como jocosamente se comenta. No primeiro caso, para aplacar a revolta das Igrejas católica e evangélicas, que são terminantemente contra o aborto, e, no segundo, para amealhar aqueles preciosos votos de Marina Silva, candidata que surpreendeu o mundo com a força de um discurso franco e ambientalista. Como se a decisão estivesse aí definida. Não está. É triste ver assuntos que realmente possam importar ao país, ou que sejam basilares ao discernimento dos eleitores, estarem à margem dos debates fundamentais. E os eleitores sabem. Que Dilma e Serra sejam a favor da vida, não restam dúvidas. Quem seria contra a vida ? Mas será que vão continuar batendo nesta tecla surrada ? E será também que dizer ser contra o aborto não tenha lá as suas desvantagens ? Há gente que não vota em quem seja contra o aborto. Talvez esgote-se este assunto a tempo, e possamos adentrar outras discussões mais palatáveis, mas será que em pouco menos de vinte dias ( data em que escrevo este artigo e até a qual o Usina do Porto talvez ainda não esteja nas ruas ) terão os candidatos tido pelo menos o tempo para exporem suas efetivas idéias de maneira concreta ? Eu fico aqui pensando como a disputa de um cargo de tal importância possa tornar-se refém de perigosas manobras de marketing. Sim, porque não se pense que o candidato vá lá de frente às câmeras e abra o seu coração vulnerável aos ataques do adversário. Não, isso é claro que não. Os candidatos, sob tal pressão da panela de expectativa do poder, usam muito mais do que a maquiagem improvisada nos camarins das emissoras. Eles usam gestos, roupas especialmente estudadas, e sorrisos, até mesmo se até ontem não sorrissem, para tornarem-se - aos olhos menos atentos – outras pessoas. E é entre essas que devemos escolher uma para ocupar a presidência da República. Dizem que brasileiro não sabe votar. Grande ilusão. Vejam os tais fichas-sujas, que ficaram em sua maioria de fora da escolha das urnas. Observe-se a recomposição do Senado Federal ( aquela casa da Mãe Joana ) de onde quase oitenta por cento de seus ocupantes terão deixar seus gabinetes para gente nova. Sangue novo, e provavelmente menos contaminado por estes vícios antigos de nossa política brasileira. O eleitor não está propriamente preocupado com o aborto, ou com a questão ambiental, embora estes itens sejam de fato importantes, mas não o suficiente para decidir um pleito desta magnitude. Será que os candidatos não pensam nisso ? E querem governar um país do tamanho do nosso ? O que esperam os eleitores são propostas de fundamento, e não promessas ao vento, como bolsas-isso, bolsas-aquilo, quase sempre esquecidas após a apuração dos votos. Seja o que Deus quiser, Ele saberá escolher.

2 comentários:

  1. Vou de Serra agora no segundo turno. Vou por falta de opção. Mas ando mesmo descontente.
    beijo

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  2. Oi, Bípede:

    Já é um voto de qualidade.
    Bj.

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