quarta-feira, 26 de outubro de 2011

E CORRER, PODE ?

A peça publicitária em que Gisele Bündchen aparecia em lingerie, tentando obter a compreensão do marido - parece mentira -, ocupou tanto espaço dos órgãos responsáveis por considerações reguladoras de um sistema pretensa e politicamente correto, se é que podemos dizer assim. Foi mais um ato da ineficiência dessas repartições que não têm mais nada o que fazer. Na prática, terminou por impedir a exposição de alguma coisa que ao menos faria bem aos olhos e à alma, muito mais que tantas obras de arte que andam por aí, e nem de perto comparáveis à obra-prima-viva que é a Gisele, ainda mais em lingerie. O ato faz parte dessas investidas da burocracia brasileira que, mergulhada num mundo de faz-de-conta, deixa de ver – e de fazer - o que realmente interessa. Em matéria de publicidade, pouco se fala sobre peças que contêm forte estímulo ao consumo de álcool, ao mesmo tempo em que de outro lado institutos e fundações procuram desesperadamente coibir os acidentes causados pela bebida. Indo por aí, deparamos com outro assunto afim, sobre o qual nada se fala: a publicidade de veículos, em geral grandes e potentes camionetes com seus donos que dirigem perigosamente e que por vezes falam no celular ao volante. Quem me chamou a atenção sobre isso foi meu irmão mais novo, que perdeu sua primeira filha num acidente de carro. Subliminarmente eu já concordava com a idéia, mas passando a observar melhor, percebi que na prática todas as peças publicitárias sobre veículos contêm imagens de camionetes que saltam montanhas e que transpõem obstáculos inimagináveis. Ou de automóveis que andam perigosamente a toda velocidade dentro da cidade. E de motoristas que fazem “pega” em subsolos de edifícios. E de outros que estacionam em alta velocidade dando um bem sucedido cavalo-de-pau. Tudo isso como nos filmes de ação a em que polícia corre atrás do bandido. Alguma imagem de um automóvel em baixa velocidade, passeando pelo campo, por exemplo, com um casal observando a natureza antes do piquenique que vai fazer, algo assim contemplativo como a Gisele Bündchen em lingerie, alguma coisa que realmente faça bem aos olhos e à alma, nem pensar. Acho que já é tempo de nos ocuparmos deste assunto, quando mais não seja para, a exemplo das peças publicitárias apregoando o charme do drink do final do expediente, pelo menos aplicarmos em correspondência alguns dizeres ao final da propaganda, como: “Se for dirigir, não corra”. Será mais uma hipocrisia, isso sabemos, mas pelo menos poderemos dizer, como no caso da bebida alcoólica, que houve tanta preocupação sobre este assunto quanto sobre o da Gisele em lingerie.

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