domingo, 4 de abril de 2010

A SIMPLICIDADE EM LÚCIA PAIXÃO

Lúcia Paixão apresenta-nos uma pintura limpa e desprovida de qualquer pretensão. Eu a visitei em seu ateliê situado no grande parque de sua casa, na verdade um paraíso que só poderia transmitir-lhe a placidez da natureza que a cerca, reverberando sobremaneira em seu trabalho a simplicidade das linhas e das cores, tão características de seus quadros. São peças muito bem construídas e equilibradas sobre o suporte, que lembram um pouco de Miró, artista que ela admira, aquele Miró que repetia riscos quase infantis, pequenas curvas culminando em pontos que uma vez colocados sobre a tela dispensavam palavras ao espectador. O uso simplificado das cores da palheta de Lúcia, basicamente as primárias, preenche o minimalismo do traço, nascendo daí a imagem abstrata. Por vezes, vêem-se degradés numa busca mais profunda pelo volume, mas também vazios de tinta ( “deixas” ) a que se permitem os pintores com maturidade. A artista revela uma atitude serena em seu trabalho, apresentando outra característica importante que é a unidade do conjunto. Ela tem se fixado em momentos que, mesmo não se constituindo em fases - para dispensarmos este cansado jargão da crítica -, inegavelmente confessam a continuidade de um labor diário, um caminho sem começo nem fim do qual a artista desconhece a distância, como quem não tem pressa no fazer, mas, não menos, como quem se entrega a uma solene tarefa atemporal. Sua arte, assim, flui como um pensamento leve, desprovido de obstáculos, de cargas externas que nela a artista não quer depositar. Em suas telas de grandes formatos permanece esta ordem simples, talvez o motivo maior de sua beleza.


Paulo C. Amaral
Outono de MMX

Nenhum comentário:

Postar um comentário