segunda-feira, 5 de abril de 2010

AVEC LE TEMPS...

Avec le temps…

Há uma canção francesa chamada Avec le temps, de autoria de Michel Ferré, um dos grandes mitos de nosso ( ido ) tempo. Avec le temps pertence à era mais genuína dos românticos ( não ao Romantismo, que nada tem a ver com os – para sempre – românticos ). Trata-se de uma música sobre a destruição das ternas ilusões que alimentam a construção do homem, perpassando as mais designadas etapas de nossas vidas, principalmente as relações amorosas idealizadas no cadinho do sonho que, como se sabe, é aquilo que menos dura. Delas ( as ilusões ) encarrega-se o tempo de apagá-las. Em alguns casos, muito excepcionalmente, tal não acontece, mas creio que somente na área amorosa. No final da música chega-se à morte - note-se que o autor propriamente não refere isso, mas salienta a decadência irresistível da condição humana, seja ela qual for. Afinal, tudo se vai. A canção está disponível no Youtube, basta entrar no Google, colocar seu nome e aparecerão alguns vídeos com a magistral interpretação do próprio Ferré já no final de seus dias. É de chorar, confesso. A primeira estrofe canta “avec le temps, avec le temps và, tout s’en và...” ( com o tempo, com o tempo vai, tudo se vai...). Lembrei desta canção a propósito de mais um pleito eleitoral para governador que se aproxima, passado o último faz poucos anos. Com o tempo, com o tempo vai, tudo se vai..., inclusive nossa memória sobre fatos que num determinado instante habitam o nosso cotidiano, mas o cotidiano de um mero momento que não sabemos dimensionar, e que termina morrendo na próxima noite de sono. - Você lembra os candidatos à última eleição para governador ? Se a resposta for sim, isto já é um ótimo sinal. Segunda questão: - Você lembra quais as coligações que então foram costuradas pelos candidatos ? Se acertar apenas a coligação dos partidos que apoiaram o vencedor ( desculpem-me, a vencedora ), uma coisa é certa: o Ahlzeimer aí não chega. Você é um raro caso de lucidez. Pois tampouco os candidatos daqueles partidos - acredite se puder - seriam capazes de lembrar com exatidão as “alianças” que construíram em passado muito recente. Para ganhar uma eleição, muitas vezes os políticos não optam por atitudes éticas, sentando à mesa com seus inimigos mais ferozes. Há dois propósitos em comum: vencer primeiro, e dividir o mando, depois. Então, passados alguns meses ou anos, principalmente quando chegam às vésperas de uma nova eleição, estes aliados que estiveram refestelados no poder passam a reconsiderar com muito garbo as diferenças ideológicas que fundaram as bandeiras de suas legendas, as diferenças incompatíveis no jeito de governar e as diversidades em tudo o mais que possam argumentar para, na verdade, num ato de contrição muito pouco legítimo, cuidar da administração básica de uma certa assepsia em suas inconfundíveis caras-de-pau. Rompem-se as alianças, ficam os dedos e a certeza de que toda a história será apagada. E tudo recomeça. Avec le temps, avec le temps và, tout s’en và... Se até o caráter dos homens desaparece, o que desta vida não se vai ?

5 comentários:

  1. Paulo, o problema não está na nossa memória. Os candidatos é que são por demais esquecíveis.

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  2. Paulo,

    Que texto fantástico. Me fez pensar, não só na qualidade dos nossos políticos, mas também na minha qualidade como eleitor que realmente não lembro de todos os candidatos, muito menos sei quais coligações eles representaram. Quem quer exercer a cidadania, deveria ser mais atento a isso. Abraço,

    Terraqueo

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  3. Essa politicagem que toma conta do Estado, das estatais, das autarquias. O governante eleito é obrigado a dividir o poder com os partidos aliados. Que se dane a técnica, a cultura, o conhecimento, a eficácia o que importa é colocar os políticos aliados nos cargos mais graduados. E se o governante não fizer esse tipo de política perde a necessária maioria para governar. Enquanto isso o serviço público continua de péssima qualidade e os impostos lá nas nuvens. E todos dias eu me pergunto: a quem interessa a pobreza e a ignorância? Ora, caramba, a quem se beneficia disso: os politicos, mas existem exceções...

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  4. Amigos:

    Como se diz sempre, a M. muda e as moscas continuam as mesmas. Ou seria o contrário ? Mudam as moscas e fica a M. ? Agora já nem sei...

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  5. A M é mais relevante que as moscas, infelizmente, porque está acumulando, acumulando, acumulando...

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