quinta-feira, 8 de abril de 2010

EDGAR DO VALLE E SUAS AQUARELAS

Antes de entrar no texto propriamente dito, vou contar uma breve história acerca do Edgar e sua incursão pela arte. Há exatos 25 anos, escrevi a apresentação de sua primeira mostra, também realizada no Instituto Cultural Norte-Americano. Desde então, ele vive dizendo que a culpa de ter-se tornado um dos melhores aquarelistas gaúchos é minha. Não é. Quisera eu ter tantas culpas boas como esta, e eu ganharia, na verdade, a indulgência plena e a felicidade eterna. O Edgar é bom mesmo nesta técnica difícil pela qual andei nos primórdios de minha carreira como artista, e da qual ( da aquarela, quero dizer ) me afastei por considerá-la muito aprisionadora. Como dizia o Jô Soares num quadro antigo em que representava um exilado: C’est n’est pas pour le bec de quelq’un. Agora vou ao texto sobre esta nova exposição do Edgar.
Alguém poderia dizer que faz vinte e cinco anos que Edgar do Valle pinta as mesmas coisas, isto é, florestas, córregos, o mar..., a Natureza. Penso que é precisamente esta insistência do artista, sempre meticuloso e exato em tudo o que faz ( não esqueçamos que ele também é um dos expoentes da arquitetura brasileira ), é esta pertinácia que o traz agora aos resultados da nova fase que nos apresenta. Digo fase porque, numa carreira de vinte e cinco anos, permite-se o uso desta palavra. Mas referi o termo, pois é, de fato, um novo e marcante momento em sua obra. Basta olhar para estas novas aquarelas, desta vez com mais cuidado, delas se aproximando ao máximo para entender o que mudou neste tempo. Foram duas coisas: de um lado, a perfeição da técnica, algo que seria demodé, acadêmico até, se não fosse raro; de outro, a flagrante busca pelo abstrato, esta gana de voar, revelada agora por manchas ousadas nos horizontes das paisagens, algo que lembra aquelas aquarelas japonesas, que desde sempre se valeram do conjunto deste artifício: purismo de traço e liberdade. As árvores de fundo ganharam mais profundidade pelo jogo de cores, e suas ramas aproximam-se agora de uma renda de volumes aveludados que saltam aos olhos do observador curioso. Porque a pintura de Edgar não é óbvia. Ela é exigente como este artista. Vinte e cinco anos sobre um mesmo tema, em pintura é coisa de oriental, tarefa paciente e duradoura. Permanecem nestes trabalhos os espaços vazios, as “deixas” equilibradamente distribuídas a que me referia em meu texto de 1985, quando da primeira exposição do artista. Elas denunciariam de pronto a veia do arquiteto estudioso dos detalhamentos, mas, neste caso, elas se impõem e compõem o equilíbrio da obra em que a supressão do estímulo possibilita ao espectador fruí-la com maior resultado. Estamos diante do mesmo artista que optou por explorar um mesmo tema, mas ele inegavelmente nos traz agora, ao seu estilo, uma nova lição de beleza.

Paulo Amaral
Outono de MMX

2 comentários:

  1. Linda aquarela, na verdade lindíssima. Imagino que a exposição será fantástica. Eu não tive a necessária paciência e perseverança para tentar dominar essa técnica. Tenho poucas aquarelas no meu acervo. De vez em quando penso em retomá-la e produzir alguma coisa mas acabo sempre adiando. Parabéns a Edgar do Valle pela exposição e a Paulo pelo texto.

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  2. Cara Lucia: O Edgar, além de grande arquiteto brasileiro ( ele foi aluno em Chicago de Mies Van Der Rohe, um dos gigantes da aqrquitetura universal ), é pintor, como nós. Além do que, é um grande e antigo amigo meu. Foi presidente da Associaçao de Amigos do Museu de Arte do RS, quando lá fui diretor geral em minha segunda gestao. Quanto aos meus textos, eu faço isso de ofício, como curador e crítico, conforme poderás ver em meu site: www.pauloamaralart.com, o de se encotram também alguns de meus trabalhos. Bj. e abraço

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