domingo, 25 de julho de 2010

OS HÁBITOS DOS OUTROS

No centro da recente polêmica sobre a proibição de burcas e afins reside um resíduo de autoritarismo inexplicável para os padrões de regras de convivência da sociedade global. Sobretudo quando esta referência abrange os países europeus como um todo. A mesma França que valeu-se da mão de obra barata e conveniente vinda da Argélia em tempos de reconstrução no pós-guerra, esta mesma França, agora, anos depois e sem nenhuma reflexão memorial agradecida, se imiscui na cultura do islamismo proibindo o uso do véu. Pois foram os islâmicos que de forma particular, contribuíram para o reerguimento de países europeus dizimados pela Segunda Guerra. Antes ainda, à época das colonizações, foram pobres imigrantes em busca de melhores condições de vida que passaram a ocupar postos menos dignos da força de trabalho, situação que desde sempre tem perdurado a olhos nus na Inglaterra, sobretudo no caso dos indianos vistos a varrer corredores de aeroportos, e africanos em banheiros públicos parisienses, também atendidos por faxineiros de outras etnias. Nestes mictórios onde fedemos todos igualmente, só não se encontram franceses. Proibir o uso da burca e do simples véu (e eu não defendo a sua conveniência quanto à estética, mas tampouco posso crer que unicamente sejam usados por expressas ordens de maridos cruéis ), me parece algo inconstitucional em qualquer país democrático que se digne a rechaçar ondas autoritárias. Seria como proibir aos judeus ortodoxos de usar aqueles trajes e chapéus pretos, e aqueles cachos ( visivelmente ridículos aos olhos contemporâneos ), e mais ainda, de fazer com que seus filhos usem indumentária assemelhada. Será que estas crianças de livre vontade se vestiriam assim ? Trata-se de culturas diversas que em qualquer lugar do mundo deveriam ser respeitadas como tradições milenares que são. O mundo não nasceu na Europa e não surgiu da América, disso todos sabemos. Não há explicação justa para tais proibições. A sensatez, entretanto, ensina que há pontos de vista diferenciados sobre a matéria. O Ministro inglês da Imigração, Damian Green, em entrevista ao “Daily Telegraph ”, na contra-mão desta ignomínia discriminatória, afirma que “ dizer às pessoas o que elas podem ou não podem usar, se elas estão apenas andando nas ruas, seria algo não britânico.” Uma digna lição de civilidade, I suppose.

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